Wednesday, November 08, 2006


Feliz hoje para todos vocês!
Faz tempo que não dou essa saudação....
E vai aí a sétima parte do conto.


A Busca Pela Princesa Desaparecida



A viajem de Kalinor até o Vale das Névoas leva qualquer coisa em torno de um mês. Não é simples a travessia do deserto, e a viajem como teria sido feita levaria duas semanas e meia. O problema é que haviam se passado três semanas desde que a caravana trazendo a princesa saiu de Kalinor. Com o atraso de quatro dias que a viajem levou o príncipe do Vale ficou preocupado e decidiu enviar uma patrulha para ir de encontro à caravana da princesa de Kalinor.

Sendo o príncipe uma pessoa de peso desproporcional ao exagero, pouca habilidade no cavalgar e nenhuma especialidade com arma alguma que não sua faca de carne e seu garfinho de petiscos, ordenou a seu próprio chefe da guarda que guiasse um grupo na busca.

Assim se deu que em algumas horas estava partindo o paladino Halder Bluebanner, montado em seu corcel de guerra levando consigo dez cavaleiros prontos para a batalha, além de uma carroça com provisões para uma semana e o bardo Balonius.

O cuidado do príncipe tinha seus fundamentos deturpados. Primeiro não era tão grandemente dotado de autoconfiança como de adiposidade abdominal. Depois, porque sabia que era realmente uma pechincha conseguir uma união tão vantajosa e ainda uma bela esposa, sendo seu reino razoavelmente decadente, enquanto Kalinor era uma jóia do oeste, e sendo ele sabidamente criatura repugnante.

Enviou um paladino já pensando em não ter problemas do tipo paixão entre mocinha e salvador, devido ao notório voto de castidade dos paladinos. Os dez homens também foram escolhidos a dedo. Todos horrendos e com contratos bastante restritivos. O bardo era a precaução final. Balonius é simplesmente o bardo mais conhecido nos quatro cantos do continente e suas canções jamais mentem, dizem por aí. Com ele junto, não havia como acontecer algo sem que o príncipe saber.

Seguiram norte, até as cordilheiras fronteiriças do deserto durante três dias sem parar para descançar ou para qualquer coisa que não defecar. No estreito de Kotton, ponto mais comum de travessia entre os picos e montes da cordilheira, montaram seu primeiro acampamento no intento de vasculhar o perímetro em busca de pistas e também na intenção de encontrar a caravana chegando.

Depois de uma noite e um dia não encontraram sinal algum da dita caravana nem ela mesma chegou. Urgente em sua tarefa, Halder ordenou o desmonte do acampamento e a partida imediata.

Uma garoa torrencial molhou todos do grupo enquanto cortavam as estreitas passagens da cadeia de montes e penhascos. O bardo cantou, sob uma pele pesada que protegia seu banjo tão magnífico.



Por caminhos estreitos passa o príncipe

Em sua busca serena

Como é a vida do homem tão certa

Vai salvar sua pequena



O paladino se incomodou com o verso cantando a vitória do príncipe, não por vaidade, mas por não tolerar a mentira. Olhando por sobre os ombros para o bardo perguntou:

-Canta o bardo que o príncipe vai até a donzela com certa leviandade, notei. Por acaso te referes a mim como a vontade do príncipe e portanto sua presença, ou te ocupas em distorcer os fatos por razões mais terrenas, bardo?

Num sorriso o bardo responde:

-Sou um bardo e canto tudo que vejo. Pois se cantasse tudo que penso não teria público algum como não tem amigos o homem que diz tudo que lhe vem à cabeça. Podes sim entender que tua mão é guiada pela vontade do seu senhor, que é senhor sob a tutela do rei Hamull que é assim entronado sob os deuses que atendem ao grande interesse que todo humano desconhece mas que busca infinitamente como uma mariposa busca a lanterna. Ou pode me ver como um mentiroso que enganou a todo o mundo conhecido com as verdades que os poderosos mais gostam. Pense o que bem entender, porque eu toco as cordas e canto as canções, mas cabe somente ao homem ter a capacidade de ouvir e escutar e não tenho o poder de trazer a ópera ao ouvido de pedras ou castiçais. Pois bem te digo, e duvide de mim se não quiser ver com meus olhos, estou diante de um príncipe decidido a salvar sua princesa e nada me convencerá do contrário.

Apesar de conhecer os bardos e suas manias, Halder achou a prosa do artista muito confusa e preferiu ignorar a companhia, que dedilhou em busca da canção certa para a aventura durante os dois dias de cavalgada que levaram para chegar às fronteiras do Deserto de Khutar.

Algumas horas depois de iniciada novamente uma busca nos arredores notaram no horizonte distante alguns abutres voando baixo. Halder então ordenou o armamento de um acampamento e levou consigo mais cinco homens para averiguar o local apontado pelas aves de rapina.

O bardo foi junto.



A cautela de um nobre

É qualidade muita rara

E a coragem em um homem

É aqui grandemente encontrada



Os versos do bardo soavam pífios aos ouvidos do paladino, que chegando ao local onde os decompositores se refestelavam ficou muito horrorizado. Deparou-se com dezenas de anões mortos, vários deles absurdamente desfigurados. Claramente havia acontecido uma grande atrocidade ali. Mais adiante encontraram uma caverna, que estaria perfeitamente oculta não fosse pelos corpos de anões putrefatos jazendo diante da entrada da gruta.

Tudo havia sido saqueado, todos haviam sido mortos e apenas sinais de luta e tortura marcavam o local com sua profana presença. Halder se deteve em uma sala mais afastada, onde haviam duas mesas de pedra, algumas cordas, algumas correntes e vários corpos. Roupas no chão também intrigaram o paladino, que pediu uma tocha para melhor enteder o local e notou que uma das cordas tinha sangue. Perto dela então encontrou algo que parece ter passado desapercebido pelos saqueadores: um pequeno anel de prata com um brasão delicado. A marca de Kalinor. O anel da princesa.

Depois de examinar todos os corpos com muito cuidado, Halder concluiu que houve um ataque por parte dos infames Zuagires de Khutar e que a princesa, antes cativa dos anões, agora estaria sob a tirania dos saqueadores do deserto.

Terminada a perícia dirigiram-se para a cidade mais próxima, no deserto, conhecida por Aratrusta. Um antro de ladrões e comércio imoral. Distante alguns quilômetros bastante longos do esconderijo dos Zuagires.


//////////////

Pum!
 


- publicado às 6:12 AM -


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