Friday, November 03, 2006
Já nem lembro da minha cama. Ví mais filme que posso aguentar.... E putz, Trainspotting é foda. Tá na lista mesmo! Colateral (que ví de novo) também é bruto. Fome Animal... sem comentários! Mas chega de lista de filme. E pra continuar a história, a parte 2 dos Zuagires de Kuthar!!!!
O Cativeiro da Princesa
Kitana é uma guerreira do oriente, treinada no uso de diversas artimanhas de batalha. Não foi a primeira vez que foi aprisionada por ladrões. Sempre escapou. Só seria mais fácil se não tivesse de escapar levando também a princesa de Kalinor, a quem jurou proteger. A caverna secreta dos zuagires, onde agora era uma cativa, fica sob o deserto entre um pequeno desfiladeiro e um aglomerado de rochas arenosas já bem arredondadas pelo vento. Iluminada em todo seu interior por velas de uma estranha chama azul a caverna também conta com sua própria mina d’água, que forma um pequeno lago nas partes mais profundas da gruta. Inúmeras passagens ocultas pelas sombras levam às alcovas dos corsários do deserto. Suas vozes sussurrantes e seus passos discretos fazem o lugar lembrar uma espécie de monastério proibido, decorado com tapeçarias roubadas de todo o mundo conhecido e até mesmo de alguns artefatos de origem inimaginável. Uma grade presa à parede firme confinava as duas damas numa prisão fria e mal iluminada. Paços anunciam a aproximação do senhor dos zuagires. Lamorac então bate com seu grande anel de platina contra a grade de ferro. Kitana levanta seu rosto e oprime seus olhos de raiva, fitando secamente o ladrão. - Cara feia pra mim é fome, donzela da espada cantante. - Então coma mais, ladrão sujo. Você me lembra um ânus. - Haha! Mesmo amarrada a cabrita dá coices! - Essa cabrita aqui tem força para matar mil ladrões como você. - Então guarde as forças para o dia em que encontrar mil homens como eu. Tendo dito isto fez sinal para um de seus homens que passou por baixo da grade dois pratos com comida fresca e então dois copos de água gelada. A princesa continuou nas sombras, enquanto sua guardiã encarava furiosamente seus captores. Depois de alguns segundos de silêncio Lamorac e seus zuagires seguiram corredor abaixo. O som de risos cresceu quando os passos cessaram. Kitana então percebeu que estava acontecendo alguma festa mais para baixo nas sombrias catacumbas dos zuagires. Não mais necessitando se fazer de forte, deixou de lado a arrogância e levou consigo seu prato e copo, bem como os da princesa e ambas se alimentaram. Tão logo terminaram sua refeição houve um breve momento de silêncio lacônico. Então a delicada boca da princesa se abriu para cantar suas palavras: -Não tivemos sorte hoje, minha boa serva. Mas sua temperança nos garantiu mais tempo que nossos colegas de viajem tiveram. -Minha magnânima e lisonjeira senhorita está sendo muito inocente em sua afirmação, sinto contrariar. Estamos aqui entre os vivos apenas por sermos as únicas mulheres na caravana. E também pelo senhor dos zuagires parecer um bufão metido a nobre senhor. Antes do fim desta noite tenho certeza que estará bêbado tentando nos despir e abusar de nossos corpos. -O nome dele é Lamorac, não é Kitana? -Sim, amada princesa. Mas não sei mais nada dele, a não ser que é um porco sujo e ladrão. -Kitana... esta caravana estava me levando para o Vale das Névoas. Lá iria Ter com meu pretendente, o conde Octávius Stanke, suserano do vale enevoado. Não queria conhecê-lo, para ser sincera. Meu pai já me apresentou dezenas de pretendentes. Nestes curtos anos de minha vida não tive mais que alguns minutos de prazer. Todos encontrados entre páginas de livros e breves olhares pela janela de minha torre. Você fala com raiva do zuagir, mas para mim é um estranho. E não sei ter raiva de estranhos. A guardiã então contempla com languidez a pobre princesa. Sabe que é apenas uma garota mimada que pensa estar presa numa gaiola de ouro, mas que na verdade tem a vida que qualquer garota desejaria ter. Sem fome ou medo, ou tendo de se prostituir como tantas das amigas que Kitana teve na infância tiveram de fazer ao criar seios e recheio para as ancas. -Minha princesa está sendo infantil novamente, devo advertir para seu próprio bem. Sua tão monótona vida pode não ter o vento nos cabelos ou os amantes entre as coxas que tantas mulheres têm mas por outro lado não precisa se preocupar em morrer de sífilis por conta de um estuprador sujo ou de lepra por viver nos guetos. Nem precisa usar a imaginação para saber de uma uva. Tens mel para o pão e vinho para a janta. Bem... tinhas, até ser apanhada sem a guarda real de Kalinor. -Confesso que estou entediada com minha vida sim. Gostaria de poder dar um basta a tudo isso e ter essas coisas todas que você falou. Meus pés nunca foram colocados sobre a terra molhada de chuva ou sobre um galho de árvore para pegar uma fruta. Isto, minha guardiã, não é vida. Isto é estar à exibição. A garota falava de coisas que não sabia, pensou Kitana, e merecia o silêncio com que foi agraciada depois de sua afirmação. Mas não merecia, pensou também, ser currada por uma turba de ladrões que vivem no deserto. Kitana então olhou para seus pratos de bronze e seus canecos de ferro. Pegou então um dos pratos e começou a afiar esfregando contra uma das paredes de pedra. O som da festa dos ladrões abafou e muito o som produzido pelo esforço da guerreira. Depois de alguns minutos a princesa se cansou do silêncio vocal e dos barulhos metálicos e reclamou. -Mas o que raios você está fazendo? Acha que vai matar um zuagir com um prato e escapar desse inferno batendo canecos contra as cabeças duras desses chacais? -Não, minha querida (neste momento houve imenso sarcasmo) princesinha. Estou tentando arrumar uma forma de fugirmos. Estou aberta a sugestões. Novamente o silêncio entre as duas. Até que o som de festa sobe de forma assustadora. Kitana para de afiar seu prato para se atentar aos sons que tomavam o corredor. Ouviu paços se aproximando. Então Lamorac e mais duas rameiras perfumadas aparecem diante do cárcere. O zuagir solta um riso irônico: -Garanto que pensaram que eu vinha estuprá-las. Não tenham devaneios de luxúria, donzelas de porcelana. Meu paladar prefere temperos mais fortes que esse gosto aguado de vocês nobres. Abraçou então as duas vadias e foi-se corredor afora. -E não se preocupem. Tem mulher o bastante para todos meus chacais lá onde a bica faz o lago, no fundo da gruta. Duvido que algum deles queira abusar de duas virgens que mal sabem quanto pesa um homem. As duas prisioneiras tiveram de ouvir isso tudo caladas. E ouviram também os risos indecorosos de dezenas de casais por horas noite adentro. Na manhã seguinte Lamorac foi acordado por um vigia assustado: -Senhor! Elas fugiram!
- publicado às 12:58 AM -
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