Wednesday, November 01, 2006
Nenhum homem vive para feitos pequenos. Às vezes é complicado encontrar o valor do que faço, mas lembro dessa frase, às vezes e aí... pumba. Vivo! Esse texto aquí em baixo é a primeira parte de um conto que estou escrevendo. Conforme for, eu continuo postando. Sinceramente espero que gostem.
Zuagires de Kuthar
A caravana passava lentamente pelo deserto, um atalho das terras sombrias de Kalinor para o Vale das Névoas. Sábios no curso desses quilômetros de areia e sol, os líderes da caravana optaram por viajar de noite e descansar de dia, sob tendas brancas e boa vigia de seus arqueiros. Estava já amanhecendo, e o grupo resolveu fazer um pique mais puxado e seguir até pouco antes do meio-dia. Já haviam passado dois terços da viajem quando o batedor voltou galopando apavorado: -Zuagires, senhor! São zuagires de Kuthar!!! A caravana então apavorou-se e iniciou uma formação defensiva. Os camelos se deitaram, e formaram um círculo. No centro os homens armaram seus arcos e bestas, e sacaram suas espadas, deixando-as fincadas ao lado, na areia, para um saque mais rápido. De longe viram a poeira levantando. Eram os zuagires de Kuthar, e este grupo que vinha tinha não menos que vinte desses chacais malditos. Seus cavalos estavam sempre descansados e prontos para a luta. Dizem que os zuagires conhecem cavernas secretas no deserto, onde existe água e sombra, e onde escondem seus tesouros roubados. Tendo visto os atacantes, em número esmagadoramente maior, o líder da caravana, Gunthar, lamentou: -Não sairemos com vida se não negociarmos nossa fuga. Precisamos resolver o quanto antes a negociação, ou nosso segredo cairá nas mãos dos ladrões. Isto eu não posso permitir. No galope em que vinham não haveria força bruta capaz de freá-los. Estavam fadados a morrer violentamente. Porém, notando que negociar não resolveria merda nenhuma, Gunthar comandou: -Corre, negada!!! A caravana então abandonou tudo que tinha valor e saiu em desabalada carreira. Teve até um cara que resolveu derrubar o batedor, que tinha um cavalo, e ir ele mesmo no animal do infeliz. Foi uma loucura. Os zuagires chegaram ao amontoado de objetos e provisões da caravana e iniciaram a perícia dos espólios e posteriormente sua distribuição conforme hierarquia previamente configurada. Um dos chacais berrou: -Tem uma mala cheia de calcinha! Todos os imundos piratas da areia iniciaram uma fuzarca, esfregando as peças femininas no rosto e em demais partes onde podiam alcançar seus braços curtos e fedorentos. O líder dos zuagires, Lamorac, coçou o queixo como quem pensa. - Adagor e Orthur! Venham comigo! Vamos alcançar alguns dos fugitivos. O maior grupo da extinta caravana estava galopando como podia, com seus cavalos e camelos exaustos pela marcha dobrada. Quando Gunthar olhou para trás, não podia acreditar. Três cavaleiros seguiam eles em carga dobrada. Não levariam cinco minutos até alcançá-los. - Somos cinco - disse o líder- e eles são três. Aghus e Ihjul, venham comigo enfrentá-los. Kitana, leve nossa princesa em segurança até o Vale das Névoas, ou tudo terá sido em vão. Kitana consentiu e traçou um arco no rumo que seguia, tendo consigo o corcel exausto da princesa. Os seis homens, zuagires e viajantes, engalfinharam-se em cruel peleja. Lâminas cruzando o ar como vespas em chamas, cortando a carne em gestos atrozes. Jatos de sangue e vísceras cobrindo a areia. Cavalos em pânico, esporeados à insanidade. A luta terminou em minutos vermelhos. Os três zuagires, vitoriosos, enquanto os três viajantes gemiam suas mortes sobre a areia empapada de sangue. -Cão do deserto! Jamais esquecerei seu rosto, maldito. Marque meu nome. Sou Gunthar, e estarei te esperando no inferno. -Pode aprontar minha mesa e minha cama por lá, filho duma puta. Meu nome é Lamorac Thuadanoin Agmalor. Líder dos zuagires de Kuthar! Tendo dito isto, finalizou os três moribundos com impiedosas cutiladas de sua cimitarra. Houve então grande júbilo entre seus soldados, mas o senhor dos saqueadores não ficou para beber e comer dos saques, pois disparou com seu corcel negro na direção das duas fugitivas. A perseguição começou com larga vantagem para as desesperadas vítimas, mas o conhecimento das dunas e suas artimanhas deu ao zuagir as ferramentas certas. O vento tem seus horários e sentidos muito previsíveis, para quem nasceu sob este sol inclemente. Logo seu cavalo voou sobre as dunas como uma notícia ruim. Lamorac então tinha o cavalo da princesa a menos de dez metros de vantagem, quando soltou as rédeas de sua montaria e sacou seu arco. Impressionante a rapidez com que seus braços buscavam as flechas e retesiam aquele arco. O cavalo da princesa então foi agraciado com uma flecha certeira no ânus. Talvez uma dor que o próprio zuagir não considerasse merecida, porém foi apropriada no sentido de trazer ao chão a tristonha criatura e sua amazona. A protetora da realeza não teve o que fazer a respeito do tombo épico, mas deu meia volta e sacou sua arma de combate. Kitana tinha uma cimitarra encantada. Uma vez sacada da bainha a magia imbuída a espada causava um som de grito estridente que vinha da lâmina. Galopou seu cavalo com toda energia para cima do comandante zuagir. Lamorac ficou pasmo com as propriedades encantadas da arma de sua presa e vacilou em capturar a princesa, mudando sua postura para um engajamento contra a amazona e sua arma gritante. Não há uma palavra em especial para descrever o que houve. O cavalo do zuagir foi atingido pela cimitarra e explodiu! O cavaleiro voôu dois ou três metros para cima, e caiu no meio da areia escaldante. Uma imensa mancha de caldo escarlate marcou o ponto final da vida de um corcel de nobre linhagem. A princesa também ficou pasma e foi pega boquiaberta por Kitana, lançada para cima da garupa do cavalo vitorioso e levada com um galope decidido para longe dessas areias malditas. Bem, seria, se o arco do zuagir tivesse quebrado. O que não ocorreu. A flecha do pirata da areia pegou novamente no ânus da montaria em fuga, terminando num imenso rolamento de garotas armadas e uma égua empalada. O zuagir foi mancando até o ponto da queda, onde as fêmeas se empurravam desajeitadamente para levantar. A espada já não gritava mais, então o zuagir pegou a arma para si. - Seu canalha lazarento! Como você pode acertar o cu de todos os cavalos a uma distância tão grande? Me diga, antes de nosso combate de morte – disse Kitana. - Meu arco foi encantado pelo poderoso mago Dárion, e seu nome segue o efeito de seu feitiço. Meu arco se chama Helgadurin unuc Traupum, ou seja,“Pau-no-cu” traduzido do Danor Clássico para comum. Tendo dito isto, desmaiou Kitana com um chute na cabeça e levou sobre os ombros tanto a princesa quanto sua guardiã. Dois cavalos morreram no deserto dias depois, de hemorragia anal.
- publicado às 6:52 PM -
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