Monday, November 06, 2006


Todos devemos ser gratos pelo que temos e ávidos pelo que é dos outros, já dizia um velho
sábio que de sábio não tinha nada.
O tempo para correções neste capítulo foi zero, então está crú e sem tempero.
Ingulam a sexta parte da historia dos Zuagires... que pra quem não sabe é o nome
do grupo de piratas do deserto que Conan lidera por alguns anos em suas andanças pelo
mundo até a coroa de aço da Aquilônia.
Me apropriei da palavra respeitosamente.
Espero que leiam.


A Dor da Partida e a Dor da Volta



A pele macia da princesa estava toda rasgada em seus pulsos. Escapar das cordas foi um truque caro. Possível apenas para uma pessoa de grave obstinação e ossos finos e delicados. Ainda assim haviam grilhões sobre os ferimentos. A caravana dos piratas estava voltando para o esconderijo dos Zuagires em absoluto silêncio. Lamorac marchava com sua nova égua bem adiante e de forma orgulhosa e imponente. Reaver um bem roubado era para ele um grande feito, dadas as dimensões do deserto e a distância entre o ponto onde houve a perda e o ponto onde houve o reencontro. Parece que não houve uma baixa sequer entre os Zuagires no ataque ao esconderijo dos anões. O grupo estava confiante porém enojado com a podridão do abrigo dos anões.

Chegando ao esconderijo da tropa de Lamorac as duas garotas foram levadas, em correntes, até a sala do poderoso senhor dos Zuagires.

Era uma sala toda forrada de almofadas e tapetes com os mais variados padrões e temas. Vinham das mais variadas origens, como tudo mais na toca dos saqueadores.

-Eu sou Lamorac-disse o homem enquanto as mulheres se sentavam sobre um enorme cobertor de pele de urso branco.

-Eu sou o senhor dos Zuagires. Eles me chamam de Lamorac ou então de Madalan, que é meu cargo entre eles. Significa “líder saqueador” ou então “fuinha vermelha”. Ainda prefiro o meu nome mesmo. Vocês podem notar que enquanto meus homens são morenos e atarracados eu sou razoavelmente claro e exibo cabelos prateados, além de ser bem mais alto que eles e melhor equipado pela natureza no quesito inteligência. Isto se deve ao fato de eu não ser um humano como eles... ou vocês. Meu pai era humano sim, mas minha mãe não. Ela era uma amazona que liderava um grupo de mulheres saqueadoras que operava nas baixadas do Vale das Névoas. Conheceu meu pai num saque. Ele morreu antes que eu pudesse nascer. Minha mãe era uma mestiça, como vocês chamam uma cria de humanos e elfos. Eu sou, portanto, um mestiço também.

Kitana fez uma expressão séria e fitou os olhos do homem que alí, diante de duas prisioneiras fugidas, contava a história de sua vida.

-Aconteceu pela vontade do destino que ela teve um filho homem. Eu. A lei ordenava que ela me matasse, mas não foi o que houve, conforme posso atestar pela minha existência entre os vivos. Deu-me à um mercador que sobreviveu a um de seus saques, e este me vendeu a um ferreiro, que precisava de um escravo para sua forja. Trabalhei com ele até sua morte, quarenta anos depois. Fiquei por alguns anos levando adiante os negócios em seu lugar, até que a cidade onde vivia foi atacada pelos impiedosos orcs de Tenébria. Isso já faz mais de duzentos anos. Andei pela terra desgarrado, vivendo do meu ofício onde pude, até o dia em que o antigo Madalan arregimentou-me para trabalhar neste mesmo abrigo consertando as armas, ferrando os cavalos e fazendo panelas. Porém vieram tempos difíceis com a queda de Hagaenea, Damáscia e a ascenção de Bergstrand e os negócios tiveram de ser revistos. Matei o homem em um duelo justo pela liderança dos Zuagires e aquí estou já faz uns cinquenta anos. Esses homens nascem e morrem sob minha proteção, e assim será para sempre, até que as estrelas se apaguem ou que algum homem me derrote num combate justo pela liderança deste clã.

Nem a princesa nem sua guardiã estavam entendendo o porque dessa conversa. O vinho foi servido e todos os três beberam. O Zuagir contou histórias sobre criaturas do deserto, sobre homens e mulheres e sobre tesouros perdidos. As garotas também contaram suas histórias. Kitana contou sobre deuses e conquistadores, de quem tanto gosta de tomar modelo. A princesa contou histórias infantis e cantou algumas canções antigas.

Lamorac então perguntou.

-Você não é uma duquesa ou uma sacerdotisa, certo garotinha? Seus modos e postura... você tem o porte nobre de alguma coisa mais nobre. Como se deu de estar tão mal-guardada? E quem é você?

O silêncio voltou à sala. A guardiã julgava que o homem sabia o valor de sua presa, mas não era o que parecia. Não podia então simplesmente entregar a realeza de sua protegida assim, de mão beijada. Suou frio quando a própria princesa respondeu:

-Sou uma sósia da princesa Shandala, de Kalinor. Minha guarda é bem mais descuidada que a da princesa, para meu infortúnio, e integrada por pessoas de competência questionável. Quisera ter mais sorte nessa vida.

Kitana se sentiu com a queixa da princesa. Teria gratamente dado sua vida por ela, caso fosse o bastante para pôr fim ao infortúnio que as persegue.

Curiosamente a inocente princesa conseguiu enganar o líder dos piratas que vive a centenas de anos. Ele riu da história, que o rosto desapontado de Kitana pareceu confirmar, aos olhos do Zuagir.

Noite então passou com mais conversas e mais canções, que o homem conhecia às centenas.

-Bem, espero que tenham gostado desta noite. Me foi de grande agrado. A muito não tenho mais que estes chacais do deserto para conversar, ou as vadias de corpos quentes para me cantar suas músicas repetitivas. Sinto muito, mas a partir de agora vocês terão de dormir acorrentadas. E a cela de vocês será outra, mais discreta e reservada. Espero que nossas orgias não obriguem vocês a fugir novamente.

As cativas foram então levadas até sua nova cela, toda forrada de tapetes e almofadas. A porta desta vez estava muito melhor afixada à parede. Provavelmente era uma das salas de tesouro dos piratas. A única adaptação parece ter sido uma bela janela para que as confinadas tivessem algum ar. Lá ficaram acorrentadas por semanas. E noite sim, noite não, eram levadas à companhia de Lamorac para suas noites de distração.

É como se diz. Quando se vai embora de um lugar e se volta, o lugar nunca é o mesmo que se deixou e quem volta também nunca é o mesmo que saiu.


/////

Nem todo mundo é tão mau quanto você pensa, coleguinha.

PUM!
 


- publicado às 6:06 AM -


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