Friday, November 03, 2006
Depois do breve interlúdio, segue a terceira parte dos Zuagires de Kuthar, entitulada:
A Fuga da Princesa
Realmente os cavalos dos zuagires são dignos de nota. Suas pernas são curtas, mas seus corpos são longos e suas patas largas. Não se sabe ainda como podem correr tanto com tão pouca água. As duas mulheres estavam fugindo sobre o mesmo cavalo. Já faziam horas que cavalgavam pelo deserto, seguindo a última estrela do Arco de Hagen, que aponta eternamente para o sul. O Vale das Névoas estava cada vez mais perto. Enquanto todos passaram a noite na esbórnia, Kitana usou seu prato afiado para desgastar uma das partes rebocadas que afixavam a grade de ferro à parede de pedra. Não houve problemas para ela em degolar os dois guardas que estavam no caminho. O primeiro realmente caiu com uma canecada na nuca, mas o outro foi degolado com a espada do primeiro.
Era uma manhã de fuga. O sol estava tremeluzindo no horizonte se preparando para iniciar seu açoite diário aos viajantes e à areia impassível. Kitana sabia que era uma questão de horas até que se dessem conta de sua fuga, então aproveitou para dobrar o pique da corrida.
Oh destino infeliz. As rochas que anunciam o promontório que faz divisa do deserto com o vale onde as névoas jamais cessam já eram avistadas quando um encontro muito inusitado derrubou as duas garotas do cavalo, que caiu morto imediatamente. Naquela região amaldiçoada pelos deuses vive uma raça maldita de anões, os Mingraumir. Vivem de trabalhos de artesanatos com metais pouco nobres, cristais que encontram nas cavernas entre as rochas arenosas. Vivem também de pequenas emboscadas que realizam nas rotas mais obscuras entre o mundo civilizado e o deserto inclemente. No caso, usaram uma corda para derrubar o cavalo das mulheres sobre uma estaca. O pescoço do cavalo se abriu empapando as areias com o sangue grosso que lhe provia a vida.
A princesa estava bem, apenas aturdida. Kitana foi até ela e ficou em posição de batalha aguardando a aparição de seus oponentes.
De trás de uma pedra sai o primeiro anão, vestindo um pano branco sobre sua armadura rústica de couro de lagarto. E de mais duas pedras saem outros quatro anões, igualmente trajados e munidos de lanças curtas. Suas barbas parecem palha esbranquiçada e suas peles queimadas de sol são quase negras. Os olhos são de um profundo negro, como a raiz de seus cabelos, onde o sol ainda não queimou à alvura.
Avançaram os cinco em uma carga ligeira. O primeiro mirou nos joelhos da defensora real, que saltou sobre o inimigo e pisou seu rosto com força e técnica invejáveis. Tendo o rosto deslocado, o anão caiu sobre uma pedra próxima. Um baque surdo e um crânio aberto depois, ele morre.
Os outros ainda corriam quando Kitana tocou o solo. Dois anões então atacaram em uníssono visando o quadril da guerreira, que numa rebolada inacreditável ganhou impulso para girar sua recém roubada cimitarra e abrir a garganta de um dos anões. O outro ainda tentou outra estocada com sua lança, quando recebeu um fortíssimo pontapé no queixo, seguido de uma perfuração abdominal perpetrada por objeto cortante. Varado com a cimitarra, morreu de pé.
A mulher então nota que mais dois estão vindo e não tem como bater a tempo devido ao cadáver que emperra sua espada. Reagindo com a rapidez e a frieza que apenas as pessoas que acumularam muita experiência de combate podem demonstrar, chutou novamente o anão morto e com toda sua força desvencilhou-se do peso morto lançando-o sobre um dos anões que vinha em ataque. Porém foi pega de guarda baixa pelo anão restante, que golpeou seu quadril com a lança imunda, tocando o osso da bacia da guerreira e tirando-lhe o equilíbrio. Caída teve apenas tempo de descobrir que a rapidez dos anões em lutar contra seres deitados depois de derrubados é fruto de treino e muita prática. A mulher recebeu um golpe certeiro na cabeça e apagou.
Foi uma fuga rápida, que acabou rápido em um novo cativeiro. Desmaiada, nem sequer viu como também foi levada a princesa. Submersa em torpor inconsciente ao menos deu a seu corpo um instante de descanso depois de duas noites insones.
Acordou seis horas depois, apenas para descobrir que os anões da fronteira fazem os Zuagires parecerem um bando de freiras pudicas.
- publicado às 9:44 AM -
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