Saturday, November 18, 2006


E lá vai mais uma parte do conto.

Antes disso gostaria de agradecer você leitor.

É muita coragem deitar os olhos nesse blog.

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Olhos Abertos nas Areias do Deserto



Halder já estava consumido por dentro. Uma vida dedicada à vocação de paladino servindo a coroa do Vale das Névoas já desbotara sua gana de guerreiro. Era como se sua alma e seu corpo estivessem separados por um encantamento poderoso. Jamais ficou sequer tenso em batalha alguma diante de seus homens. Salvo algumas horas de ansiedade que passava quando não estavam certos do rumo que tomavam, ou talvez quando se deparava com um homem derrotado pelos vícios da civilização.

O fato é que algo nele estava desaparecendo lentamente. Algo desbotava a cada dia, e o vazio em seu peito era de causa desconhecida por todos.

A não ser talvez ao poderoso Péleas, deus ao qual o paladino servia e a quem confessava seus mais íntimos pensamentos... na solidão do claustro onde habitava. Sua vida espartana era compartilhada por seus subordinados, e como todos estavam em bastante harmonia com seus votos e suas vidas, não conseguiam entender o poderoso capitão que os liderava. Apenas se limitavam a cochichar que suas habilidades e seus poderes imbuíram-lhe de tamanha responsabilidade que não havia conduta mais nobre que a aparente apatia, o desapego por sua própria carne e alma.

Mas nenhum homem vive por motivos pífios. Ou viver assim seria apenas caminhar entre os vivos e imitá-los, não viver. E algo no fundo do ser daquele homem de lata ainda vivia.

O bardo sabe olhar nos olhos de um homem e dizer se sua canção é apropriada. Já tendo executado suas melodias para tantas pessoas era fácil notar que aquele paladino em armadura tão firme escondia um peito ferido, uma chaga exposta que precisava daquelas placas de ferro para não esfarelar ao vento como um boneco de cinzas. E ainda assim sabia que uma vez despertada a brasa oculta no homem tão cinzento, talvez Péleas, do alto de seu trono de aço, curvasse a cabeça para melhor observar o brilho da fúria.

Depois de algum tempo na cidade os cavaleiros do Vale cavalgaram para fora da cidade. O portão se abriu rapidamente, e dois zuagires estavam presentes calçados de sorrisos canalhas, enquanto Halder saía.

E no horizonte viram, em vermelho perdido na poeira e entre raios de um sol escarlate, o que parecia ser uma verdadeira tempestade do deserto, mas eram cavalos. E não menos que vinte. A vista abençoada do paladino conseguiu divisar no distante poeirão o que eram dois cavaleiros sendo perseguidos por um bando de zuagires.

E era ninguém que não a própria princesa e sua guardiã fugindo dos bárbaros zuagires, que assustadoramente alcançaram as duas em menos tempo que se leva para encher um carro com feno..

O paladino inflou o peito e disparou seu mais brutal grito de guerra:

-Por Péleas, destruidores! Salvem a princesa a todo custo!!!

Os zuagires no portão sacaram suas armas para disparar seus virotes o ágil cavaleiro Luchius Dangerzone arremessou um imenso machado na cabeça de um dos piratas, enquanto o zuagir restante foi abatido pelo impressionantemente rápido bardo, que lançou um dardo certeiro entre os olhos do infeliz chacal.

Disparando com seu cavalo, seguido por seu grupo de guerreiros, Halder berrava incentivos à seus homens enquanto brandia sua espada. Os dez homens que comandava eram seguidos pelo bardo, que mesmo cavalgando no meio de tanta poeira, tocava uma balada acelerada e cantava versos que não se podia entender, tamanhos os gritos do capitão paladino.

As duas fugitivas então perceberam que diante de si tinham os lendários cavaleiros do Vale. A capa azul e o brilho de suas armas fazia Halder ser visto de longe. E assim também foi visto pelos olhos élficos de Lamorac. Notando que estavam em maior número, mas diante de formidáveis oponentes, usou de sua liderança para aumentar o moral de seus homens:

-Quem matar mais cavaleiro ganha uma noite em Kashmura!!!

Um dos zuagires, ao escutar a proposta, deu um hurro servagem e gritou em resposta:

-Por uma noite na faixa lá na Kashmura eu matava até o líder zuagir!!!

Lamorac não gostou da resposta e enfiou a espada na garganta exposta do pirata. No calor da carga muitos homens se entreolharam com fúria. Reconhecendo a brutalidade de seu líder, motivaram-se berrando em uníssono:

-Por Lamorac!!! Por Kashmura!!! Por cerveja!!!

A dupla de fugitivas cruzou o caminho com os cavaleiros. Os olhos azuis de Halder encontraram os olhos da princesa. Os olhos apavorados da princesa então passaram pelos seus e assim os olhos do paladino se abriram pela primeira vez, em meio ao pó do deserto e na iminência da destruição de todos os presentes.

Logo depois que a guardiã da princesa passou pelo último cavaleiro houve um absurdo clangor de armas e escudos. Uma cacofonia de batalha, e o deserto conheceu a morte do Vale das Névoas.



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Então é isso! Mais tarde eu mando alguma coisa menos monótona.

PUM! 


- publicado às 9:50 AM -


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