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Thursday, November 30, 2006
Muro
Muro, ideologia, religião, raça, dinheiro, nacionalidade, parede, grade, morte, sexo, paixão, ódio, nome, gosto, estética, necessidade, cova, cerca, placa, cargo, classe, palavra, carne, tempo, mundo, vidro, fogo, medo, orgulho, posse, compromisso, inimigo, distância ou seja qual for a barreira, aqui não existe.
Só o amor.
- publicado às 6:47 AM -
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Friday, November 24, 2006
Punk Medieval, certo?
The dark barbarian
For all the works of cultured man Must fare and fade and fall. I am the Dark Barbarian That towers over all.
-Robert E. Howard, "A Word from the Outer Dark"
Tributo ao gênio que criou "O" punk medieval que era o Conan. Conan sonhou em erguer seu reino enfrentando tudo e todos, e quando eu pensava que se tratava de um homem contra o mundo, era simplesmente a representação do bárbaro do norte que derruba o império romano. O enigma do aço e tudo mais... a queda do império romano! O que é mais Sex Pistols que derrubar algum império?
Ao contrário da série de filmes, Conan do gibi não era fissurado em ter uma rainha chamada Valéria a seu lado. Seu grande amor era Bêlit, a rainha pirata. Ela tinha uma vida como a de Conan, vivendo da pirataria e brutalizando os mais fracos, e tudo isso criou uma atmosfera de sintonia imbatível entre os dois, até que em uma edição sombria da antiga revista do cimério, ela foi assassinada por um bigatão conjurado das trevas. Realmente uma coisa desconfortável. Mas estava escrito que era a saga de Conan, e ele continua, até seu coroamento nas obscuras origens de Conan Rei. Portou a coroa de ferro da Aquilônia sobre suas pestanas preocupadas e pisou nos ornamentados tronos da Terra com as sandálias que calçavam seus pés até o dia em que um de seus filhos esfaqueou o guerreiro num ato de traição.
Nem um zapatista, nem um sandinista, nem um brujeria... um bárbaro sombrio de intensos momentos de júbilo e profundas horas de melancolia. Recomendo sempre a leitura de Conan. Apesar de eviscerar por muito pouco ele não batia (muito) em mulher e se compadecia dos fracos (quando não estavam armados e vindo matá-lo). Menos complexo que o Surfista Prateado, Conan é o bábaro destruidor. Parece que hoje em dia é o governador da Califórnia...
PUM!
- publicado às 6:39 AM -
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Thursday, November 23, 2006
Hoje o céu está bem bonito.
Não sei se à noite ainda estará assim, já que a lua está tímida.
Mas anda sem nuvens, talvez estrelas surjam.
Gosto de olhar o céu.
Blagh!!!
Tou muito esquisito. Olha só o que escrevi hoje!
"O Pequeno Bob"
A cidade era como um modelo de gesso. Não parecia real. Tudo era branco. Calcário. A luz leste fazia com que meu olho esquerdo se fechasse por excesso de luz. Doía a vista. As ruas eram de um branco amarelado, de pedras compostas em mosaico. Um desenho anárquico agrupado pelo cimento de brancura impressionante.
E um menino descia a rua. Vento em seus cabelos negros e soprando sua pipa para o alto. A ladeira era íngreme. Ele corria com pernas magras e longas. A pipa amarela então ascendeu até o azul do céu e o menino parou de correr. Num barranco onde a grama verdejava e as margaridas floriam, ele olhou para o alto e contemplou seu brinquedo que dançava no céu de primavera.
Era como um sol. Era como uma lua. Não havia outro igual. Era o mais luminoso onde quer que estivesse. E soltou uma gargalhada que parecia um soluço de felicidade, enquanto as aves lhe faziam sombra no rosto e passavam das laranjeiras e limoeiros do grande quintal próximo, entre a linha de sua pipa, até desaparecerem nas colinas depois de duas casas.
Me disseram que ele era o pequeno Bob. Bom de ver brincar. Roubava limão e comia com sal. Chutava bola. Jogava pedra. Se escondia no mato. Vivia de joelho ralado. Fiquei no banco da rua, sentado, até que o sol subiu alto demais e o menino foi para casa almoçar. A senhora que me falou dele também foi almoçar.
Peguei minhas coisas debaixo do banco. Minha sacola de roupas e minha trouxa de comida, e fui embora da cidade, pela estrada mais verde que havia por ser atravessada. A floresta que havia à frente parecia mais fresca. Segui meu caminho ainda por muitos anos, sem jamais me esquecer da risada daquele menino. Era como meu filho.
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Só pra avisar, EU não tenho filho. PUM!
- publicado às 7:07 AM -
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Wednesday, November 22, 2006
Nem tudo que é pra sempre é bom. E nada é pra sempre. Hey, pra quem gosta, tudo pode ser bom. Enfim, este é o meu texto do dia:
A Fogueira
A fogueira crepitava enquanto a lenha se tornava um brilho forte. As chamas balançavam num vaivém lento, como uma valsa de fim de noite. E do meio das chamas as brasas que se desprendiam voavam como fadas do fogo a cada sutil brisa da madrugada. Sentados à beira do fogo não falávamos nada. A noite já tivera barulho o bastante e mesmo sendo tão jovens já começávamos a aprender o valor do silêncio.
Os rostos iluminados pelo fogo revelavam amigos, colegas e conhecidos. Cada qual com seu mundo expresso no rosto. Os cansados e suas olheiras fundas e olhos semicerrados. Os solitários e seu tédio electo. Os namorados e suas faces que se tocam. Os bêbados e seu sono etílico. Os menores olhando para os lados em busca de aprovação. Os mais velhos preocupados com a Segunda-feira. Os faladores e sua inquietação desconfortável. E por último o silencioso observador e um sorriso de fim de festa. De quem está em companhia boa, de quem tem dezoito anos.
O tempo passou aquela madrugada. E não parou mais. O fogo ao redor do qual tantos amigos se aqueciam no amanhecer frio de inverno já se apagou. Talvez outras chamas estejam acesas agora e eles continuem com seus rostos amigos iluminados pela luz viva que se desprende da matéria que compõe este mundo, e que extirpando da cor e da solidez dos seus combustíveis cria a luz. E esta luz que se apagará terá, para cada um que ao seu redor se reúne, um significado singular.
Mas a fogueira daquela noite quase tocava minha alma com seu calor, enquanto as fadas dançavam rindo de nossa presença, e desapareciam no ar, felizes por suas vidas curtas e quentes que duraram apenas alguns instantes, mas que não viram ninguém triste do nascimento até a morte. Porque aquela noite nós esperávamos o sol nascer. Um fogo mais duradouro, que verá bem mais que nós, mas que nunca saberá como é estar na companhia de bons amigos ao redor de uma fogueira, numa noite fria.
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Sem mais, PUM!
- publicado às 6:24 AM -
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Monday, November 20, 2006
Quem aí gostava de Poltergeist?
Pois é!!! E olha só o que os Misfits pensam a respeito desse filme:
"Shining"
Control the urge to spit up vile worms... soul Monsters seduced by her attention Try draining the infection
Locked in a world of vomit soaked skin... Heaven Monsters seduced by her attention She's draining the infection
"Carol Anne" the beast is calling "Carol Anne, Carol Anne" she can hear souls sing "Carol Anne" the beast it needs you Here it comes, here it comes Reaching out somewhere from inside your TV
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O refrão é lindo... É como eu sempre digo, construir casas ou cemitérios de animais sobre antigos santuários indígenas não é exatamente uma boa idéia. O CREA devia advertir engenheiros a respeito deste complexo problema.
PUM!
- publicado às 12:50 PM -
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Sunday, November 19, 2006
Boa noite. Já é uma boa hora para ir pra cama.
Um homem é o que lhe dizem ou é o que acredita ser?
E se é o que acredita ser, até que ponto poderá seguir o caminho que acredita?
Se deixar de trilhar este caminho deixará de ser o que acredita, e então será o que lhe dizem?
O caminho da fé é um caminho sem espaço para perguntas. A fé é a resposta para todas.
Não se deve então questionar a fé, apesar de ser a existência baseada no que acredita ser.
O conto abaixo é sobre um homem e uma crença, e sobre a arrogância dos homens.
Se o que você tem diante de si é o caminho certo, cuidado.
A única certeza na vida são os impostos... e a morte.
Hehehe!
Escreví "O Herege" em tributo a uma música magistral da banda Grimorio.
A música falava do povo pedindo a queima do herege.
Eu só precisei pensar num motivo.
E quem leu um pouquinho sobre a inquisição sabe que motivo não faltava pra fazer fogo.
Uma amiga lembrou-me deste texto hoje, então resolví reergue-lo do limbo!
Obrigado pela lembrança, Sessa!
O Herege
Sala da tortura, da purificação
Você será julgado pela Santa Inquisição
Negra é sua alma como negra é sua magia
Você foi condenado pelo crime de heresia...
E tudo começou muitos anos atras quando ele disse no sermão que "o senhor perdoa a todos, pois sua misericórdia é divina. E para isso não depende de igrejas ou rezas, apenas de arrependimento e sinceridade". A venda de indulgências era notória na maioria das paróquias em todo continente, e as palavras do padre chegaram aos ouvidos do arcebispo, que não ficou nada satisfeito. Enviou então uma comissão de inquisidores para averiguar a história.
Chegaram de manhã, quando a neblina da noite ainda estava baixa nos campos. Eram sete homens. Quatro inquisidores e três cavaleiros templários. Cruzaram a cidade silenciosa, e chegaram à igreja. Chamaram pelo padre, cujo nome não posso revelar devido à ordem de esquecimento à qual ele foi condenado. O herege então abriu as portas do lugar. Já estava vestido, e preparava-se para sair quando chegaram os homens da igreja. Deixaram os cavalos no poste e entraram para conversar com o padre. Instruíram então o homem a mudar seus temas. "Não há interesse de ninguém em termos problemas na sua paróquia, padre. Não há razão para termos um distúrbio na ordem das coisas. Vá até seu povo e diga-lhes apenas o que está escrito no seu livro. O único caminho que salva é o da Santa Igreja, e nenhum outro." Saíram então de lá, com a promessa do padre de "não mentir para o povo, nem para a igreja".
Não passou um mês e meio e um dos espiões da igreja reportou reincidência na rebeldia do padre, desta vez no que se referia a existência de demônios. "Não há demônios na terra. Há apenas no coração dos homens. Devemos combater o demônio dentro de nós para tornar então a terra, num paraíso". Mais uma vez bateu de frente com a igreja e seus exorcismos mirabolantes e dramáticos, realizados muitas vezes em filhos epilépticos de homens ricos. Hoje chamaríamos a "marca de salvação" de lobotomia. Desta vez o arcebispo não se conteve e ordenou que uma comissão de inquisidores fosse formada para julgar o caso. Então rumaram para a paróquia do herege, uma comissão de vinte e cinco inquisidores, trinta templários e o próprio arcebispo, que desejava mais que tudo, ver o pecador se redimir em chamas.
Tomaram a igreja do padre, montaram uma reunião forjada e viram em suas cartas marcadas que "era preciso tirar a verdade do padre". Dois dias e duas noites na sala de tortura transformaram o padre em um farrapo humano. Não havia como ele não confessar que havia tido visões. Ele revelou onde estavam pergaminhos que seriam supostamente entregues a ele por anjos. Pergaminhos que ensinavam palavras novas aos homens. Palavras de libertação e verdade, que de forma alguma iam de encontro com a palavra do livro sagrado. Claro que uma vistoria mais minuciosa por parte dos inquisidores revelou serem os anjos servos de lúcifer e as palavras mentiras muito bem contadas pelo senhor das mentiras. Tendo então sido verificada e confirmada a relação do padre com o mal, seria administrada a penitência máxima: a purificação pelo fogo.
De dentro da igreja já se podia escutar a multidão gritando que era hora de queimar o herege. Foi então amarrado na pira dos penitentes. Lá ele expiaria seus pecados.
Olhava ainda para o céu, o excomungado, quando a tocha caiu entre os galhos molhados de óleo. O fogo subiu rápido pelo seu corpo, e se enredou por ele como uma serpente frenética. O povo gritou, zurrou e assobiou enquanto o herege queimou, até que nada mais restou além do cheiro horrendo de carne e osso queimados. A multidão então parou a algazarra, e murmuravam comentando o acontecido, enquanto voltavam para suas casas. Um novo padre seria designado para a paróquia e assumiria em menos de uma semana, se não houvesse a grande catástrofe.
No dia seguinte da queima do herege, uma chuva torrencial impediu que os inquisidores, o arcebispo e os templários saíssem da localidade. Choveu pesado e forte até a madrugada seguinte. Durante a tempestade não se podia ouvir nada além do uivo do vento. Não sei porque sobrevivi, nem como pereceram os outros nas outras casas, mas aonde eu estava foi tudo muito rápido. As portas e janelas estouraram e junto do grito do vento e da água da chuva, entraram figuras sombrias como anjos da morte, montados em cavalos de sombras e fogo. Os templários que estavam em minha casa foram cortados diante de meus olhos juvenis. Seus corpos dilacerados caiam sobre os tapetes um após o outro. Os cinco cavaleiros e minha família inteira pereceram em alguns segundos, diante de mim. Depois de destruir todos os vivos em minha casa, nem me olharam e saíram por onde vieram, tão rápido quanto chegaram.
Somente eu e o recém nascido da casa do vizinho vivemos para ver o dia seguinte. Não havíamos nem sido batizados ainda. Hoje sou um homem sem religião. Um escriba sem histórias. Caminho por um mundo irreal construído sobre mentiras e verdades tão frágeis quanto o papel que uso para escrever. Mas quando me perguntam sobre o fogo e a tempestade, eu sempre conto essa história... na esperança de algum dia encontrar alguém que saiba a verdade por trás do que vi acontecer na minha cidade natal. Ainda vejo os seres de sombra montados em fogo, quando estou sozinho. Eles nunca falam nada, nem olham para mim, mas estão sempre lá. Será que algum dia eles me dirão alguma coisa?
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Eita!
PUM!
- publicado às 7:42 PM -
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Boa noite!
- publicado às 7:36 PM -
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Saturday, November 18, 2006
E lá vai mais uma parte do conto.
Antes disso gostaria de agradecer você leitor.
É muita coragem deitar os olhos nesse blog.
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Olhos Abertos nas Areias do Deserto
Halder já estava consumido por dentro. Uma vida dedicada à vocação de paladino servindo a coroa do Vale das Névoas já desbotara sua gana de guerreiro. Era como se sua alma e seu corpo estivessem separados por um encantamento poderoso. Jamais ficou sequer tenso em batalha alguma diante de seus homens. Salvo algumas horas de ansiedade que passava quando não estavam certos do rumo que tomavam, ou talvez quando se deparava com um homem derrotado pelos vícios da civilização.
O fato é que algo nele estava desaparecendo lentamente. Algo desbotava a cada dia, e o vazio em seu peito era de causa desconhecida por todos.
A não ser talvez ao poderoso Péleas, deus ao qual o paladino servia e a quem confessava seus mais íntimos pensamentos... na solidão do claustro onde habitava. Sua vida espartana era compartilhada por seus subordinados, e como todos estavam em bastante harmonia com seus votos e suas vidas, não conseguiam entender o poderoso capitão que os liderava. Apenas se limitavam a cochichar que suas habilidades e seus poderes imbuíram-lhe de tamanha responsabilidade que não havia conduta mais nobre que a aparente apatia, o desapego por sua própria carne e alma.
Mas nenhum homem vive por motivos pífios. Ou viver assim seria apenas caminhar entre os vivos e imitá-los, não viver. E algo no fundo do ser daquele homem de lata ainda vivia.
O bardo sabe olhar nos olhos de um homem e dizer se sua canção é apropriada. Já tendo executado suas melodias para tantas pessoas era fácil notar que aquele paladino em armadura tão firme escondia um peito ferido, uma chaga exposta que precisava daquelas placas de ferro para não esfarelar ao vento como um boneco de cinzas. E ainda assim sabia que uma vez despertada a brasa oculta no homem tão cinzento, talvez Péleas, do alto de seu trono de aço, curvasse a cabeça para melhor observar o brilho da fúria.
Depois de algum tempo na cidade os cavaleiros do Vale cavalgaram para fora da cidade. O portão se abriu rapidamente, e dois zuagires estavam presentes calçados de sorrisos canalhas, enquanto Halder saía.
E no horizonte viram, em vermelho perdido na poeira e entre raios de um sol escarlate, o que parecia ser uma verdadeira tempestade do deserto, mas eram cavalos. E não menos que vinte. A vista abençoada do paladino conseguiu divisar no distante poeirão o que eram dois cavaleiros sendo perseguidos por um bando de zuagires.
E era ninguém que não a própria princesa e sua guardiã fugindo dos bárbaros zuagires, que assustadoramente alcançaram as duas em menos tempo que se leva para encher um carro com feno..
O paladino inflou o peito e disparou seu mais brutal grito de guerra:
-Por Péleas, destruidores! Salvem a princesa a todo custo!!!
Os zuagires no portão sacaram suas armas para disparar seus virotes o ágil cavaleiro Luchius Dangerzone arremessou um imenso machado na cabeça de um dos piratas, enquanto o zuagir restante foi abatido pelo impressionantemente rápido bardo, que lançou um dardo certeiro entre os olhos do infeliz chacal.
Disparando com seu cavalo, seguido por seu grupo de guerreiros, Halder berrava incentivos à seus homens enquanto brandia sua espada. Os dez homens que comandava eram seguidos pelo bardo, que mesmo cavalgando no meio de tanta poeira, tocava uma balada acelerada e cantava versos que não se podia entender, tamanhos os gritos do capitão paladino.
As duas fugitivas então perceberam que diante de si tinham os lendários cavaleiros do Vale. A capa azul e o brilho de suas armas fazia Halder ser visto de longe. E assim também foi visto pelos olhos élficos de Lamorac. Notando que estavam em maior número, mas diante de formidáveis oponentes, usou de sua liderança para aumentar o moral de seus homens:
-Quem matar mais cavaleiro ganha uma noite em Kashmura!!!
Um dos zuagires, ao escutar a proposta, deu um hurro servagem e gritou em resposta:
-Por uma noite na faixa lá na Kashmura eu matava até o líder zuagir!!!
Lamorac não gostou da resposta e enfiou a espada na garganta exposta do pirata. No calor da carga muitos homens se entreolharam com fúria. Reconhecendo a brutalidade de seu líder, motivaram-se berrando em uníssono:
-Por Lamorac!!! Por Kashmura!!! Por cerveja!!!
A dupla de fugitivas cruzou o caminho com os cavaleiros. Os olhos azuis de Halder encontraram os olhos da princesa. Os olhos apavorados da princesa então passaram pelos seus e assim os olhos do paladino se abriram pela primeira vez, em meio ao pó do deserto e na iminência da destruição de todos os presentes.
Logo depois que a guardiã da princesa passou pelo último cavaleiro houve um absurdo clangor de armas e escudos. Uma cacofonia de batalha, e o deserto conheceu a morte do Vale das Névoas.
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Então é isso! Mais tarde eu mando alguma coisa menos monótona.
PUM!
- publicado às 9:50 AM -
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Friday, November 17, 2006
E é o dia dos ditados!!! Pelomenos pra mim!
"My candle burns on both ends; And it will not last the night; But oh! my foes and oh! my friends; How it makes a lovely light." St. Edna Vincent Millay
E é isso aí.
E tem o Bonja!
"Jimmy shoes busted both his legs, trying to learn to fly
From a second story window, he just jumped and closed his eyes
His momma said he was crazy - he said momma Ive got to try
Dont you know that all my heroes died
And I guess Id rather die than fade away"
E é isso! O Surfista Prateado também não existe!!! Agora que tal um pouco mais do meu mundo insano do conto dos Zuagires?
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Os Atalhos do Deserto
A ameaça de Lamorac não foi um conselho de homem para homem. Foi uma ameaça de morte e apesar de não terem confirmado suas intenções sobre princesas ou guerreiras, ambos estavam cientes de suas presenças. Um instinto presente em ambos guerreiros lhes advertia das verdades que não pronunciaram. O paladino tinha certeza que os zuagires estavam com as damas desaparecidas. O Zuagir sabia que o paladino estava atras das garotas, mas ainda havia uma coisa errada. Ainda parecia muito estranho que um paladino viesse ao resgate de uma simples sósia. E logo um paladino de outro reino. Chegando ao esconderijo, Lamorac logo avistou seus dois guardas do lado de fora olhando ao redor. -Adivair! Elondir! Por que em nome de Masha e Zoth vocês estão aqui fora e não lá dentro cuidando das nossas reféns? Os dois zuagires se entreolharam com vergonha. -Sabe o que é, seu Lamorac? A donzela engasgou com um caroço de ameixa e a guerreira pediu ajuda pra desengasgar a guria. Aí a gente entramos e atuamos como pudemos. Só que a guerreira tava muito nervosa comigo porque eu tinha chamado ela de gorda e me bateu na nuca. -É isso mesmo, seu Lamorac. Aí quando eu ví o Elondir caído, entrei na cela e dessa vez quem bateu foi a daminha, que estava braba comigo porque falei que ela não tinha bunda. Quando acordamos elas tinham sumido com um par de cavalos... os nossos. Lamorac ficou muito bravo e soltou um hurro selvagem do fundo da garganta. Depois ficou sereno e começou a rir. -Vocês serão exilados no Deserto Sem Norte. O resto dos zuagires vem comigo. Vamos pegar as garotas antes que aconteça alguma desgraça maior. Os zuagires partiram em alucinada cavalgada guiados pelo Manadan Lamorac, que parecia ver marcas nas areias que mais nenhum deles podia enxergar. Porém até mesmo o mais novato dos zuagires podia notar que Lamorac não estava em seu normal. Algo naquela busca era desesperado e assustador. Quase uma noite de distância entre Lamorac e a princesa deixaram tanto a donzela quanto a guerreira com a estranha impressão de ruína eminente. Parecia muito fácil. E qual não foi a surpresa de ambas ao ver ao longe uma grande cidade. Talvez lá conseguissem ajuda para voltar a Kalinor, ou mesmo seguir até o Vale das Névoas. Dobraram a velocidade do galope para alcançar a cidade antes da noite cair novamente. E na cidade o grupo do paladino se preparava para vasculhar o deserto em busca dos zuagires. Halder agora parecia outro homem, decidido a destruir o Zuagir a todo custo. Havia contemplado os olhos do homem e viu a maldade que habitava seu ser. Sabia que haviam espiões por toda parte e seus passos seria todos relatados e previstos. Sabia que havia a imensa chance de ir direto à armadilha dos chacais do deserto com todos seus homens. O bardo não tocou, mas gentilmente dedilhava as cordas. A tarde começou a avermelhar, num presságio de sangue. Quanto aos zuagires, seus cavalos voaram pelo deserto por rotas de camelo que apenas Lamorac poderia encontrar com seus olhos injetados de fúria. Os ventos da tarde sopravam a favor de seus animais, como se os elementos quisessem que estes piratas alcançassem as fugitivas. Sim, foi um crepúsculo vermelho. E a cor foi bastante apropriada para o encontro infame que se deu aos portões de Aratrustra.
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É isso aí! Curtam essa vida. Ela é curta, tem um monte de gente idiota que vai te encher o saco, mas pra compensar de vez em quando você vai achar uma ou duas que vão fazer a merda toda valer a pena. E se não, cara... PAU NO CU!!!!
PUM!
- publicado às 12:11 PM -
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Thursday, November 16, 2006
Já ví uns dois blogs com essa idéia, então... vou entrar na roda!
Eis minha lista de...
Músicas
Pra ninar: Moonchild, do King Crimson Me faz chorar: Moonlight Sonata... se bobear alguém se mata ouvindo. Canto pra quem me aborrece: Sr. Aubilbuaobo... Pra ouvir bem alto: Shadow on the Sun, do Audioslave Danço até me acabar: Tá louco??? Pra tocar no dia do meu enterro: Hallowed be thy Name. Ninguém merece: Tiririca. Instrumento Imaginário: Lança-Chamas Pra relaxar: Duel, Swervedriver Uma dos Beatles: The long and winding road... that leads... to your door... Cantaram pra mim: Garotos, do Leoni. Já me dedicaram: Raul Seixas! Passo batido: Slipknot Canto no banheiro: Homage to Satan, do Deicide... ... ... tá, Lord Fungus, Aubilbuaobo. Tudibom: Generator, do Bad Religion Tocou na hora certa: Porra, Raining Blood, certeza! Melhor show da minha vida: Tive umas boas sextas de blues no Tribão, mas acho que foi Varukers. Já cantei em karaokê: Ideologia Imbatível pela mediocridade: Aubilbuaobo! Música de filme: O tema final do OVA do Rurouni Kenshin. De se matar, também. Uma letra de primeira: Hallowed be thy Name (de novo) Música clássica: Wagner... O Anel dos Nibelungos. Irritante: Funk. E sem conversa, eu saio fora. Senhora interpretação: Raul Seixas no Aluga-se! Aos amigos: Blood Brothers (Iron de novo!!!) Música da minha vida: Hallowed be thy Name (cassete, de novo????) Pra curtir a dois: Misfits. Se não aguenta, melhor só conversar. Diz muito sobre mim: Delirium of Disorder, Bad Religion.
Vou acrescentar o campo...
Versão de clássico que ficou fodona: Still Loving You, do Scorpions pelo Sonata Arctica!
- publicado às 1:10 PM -
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O conto eu só vou continuar no fim de semana. Tou cheio de coisa pra fazer pra hoje! Blagh!
Agora vai uma pérola da insensatez:
O Bravo Agrapur
Agrapur era um guerreiro de Bergstrand. Trajava uma brilhante armadura composta das tradicionais placas de ferro e malha de aço. Sua arma era uma enorme espada e sua guarda um enorme escudo. Cavalgava seu potente corsel negro enquanto cruzava o Vale dos Mortos, perto do Bosque das Almas Perdidas. O vale tinha este nome devido ao fato de ali terem havido incontáveis batalhas pela soberania de Bergstrand. Já o bosque tinha o nome devido ao fato das almas dos mortos nas batalhas do vale serem condenadas a vagar aquelas matas em eterno silêncio Gelado. O cavaleiro estava numa vigília pedida pelo capitão, Senhor Kanzer, e buscava sinais de invasores do distante reino de Vorgrand. No meio de sua vigília noturna ouviu um grito apavorado e quando se virou para o som viu uma mulher correndo a seu encontro, chorando em desespero. -Socorro, bravo homem! Salve-me da fera hedionda. Lhe ofereço meu corpo e alma, belo herói. O soldado virou seu rosto procurando a fera e então viu um imenso tigre branco do tamanho de um búfalo simério, que vinha no pique da caça, abater a dama. Olhou para a decotada donzela, julgou seus quilinhos excedentes e curvas generosamente exibidas e respondeu: -Eu não. Você que se fôda. Foi então que virou o cavalo para o rumo da segura cidade e abandonou a garota lá, para ser eviscerada e destruida pelo demônio bestial que a perseguia.
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Apatia... ou juízo?
PUM!
- publicado às 5:39 AM -
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Monday, November 13, 2006
(pausa no conto)
O Momento
A lua derramava seu brilho sobre a neve. Pendia do céu feito uma lanterna fria. E ela, com dedos brancos, apanhava folhas de ruta. O odor lhe agradava. Um lago próximo orquestrava o canto das rãs, enquanto uma coruja gorgeava serenamente como que contemplando sua atena entre as ervas. O céu e seu profundo azul noturno parecia ser acusado pelas árvores negras da floresta. Ciprestes entre escarpas nuas também coroavam a lagoa quando o momento chegou. E depois daquele momento não houve mais nada perfeito. Nunca mais as cores iriam pintar um quadro como aquele, e todos os elementos na obra apenas podiam viver o instante, sem jamais ter idéia da grandiosidade do todo que era aquela pintura viva, aquela fotografia jamais tirada... Apenas restou então ao criador, do alto de sua imensa satisfação com a obra de seu gênio, acordar e levantar-se para ir trabalhar. Pena, mas como tantos sonhos, foi esquecido. Uma imagem perdida para sempre que jamais foi contemplada por olhos vivos. Um momento perfeito visto pela alma de um sonhador. Um momento findo pela luz do dia e suas atrubulações cotidianas. Mas ainda assim uma justa recompensa por um dia de trabalho nessa terra que pode muito bem ser o sonho de um vagabundo.
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- publicado às 12:43 PM -
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Sunday, November 12, 2006
Boa tarde a todos. Ou boa noite... ou bom dia...
Enfim, hoje é dia 12 de novembro. Um bom dia para postar a nona parte da história dos Zuagires e seus negócios bizarros. Prometo que está quase no fim, ok?
A Missão de Resgate
A princesa escutava o som cadenciado das estalactites e suas goteiras sem fim. Já se passara muito tempo que não via o sol. Estava se sentindo da mesma forma que se sentia em casa, enclausurada, e o sabor de liberdade que aquele cativeiro entre bandidos já esvanecera da boca. Lamorac surge diante da cela: -Guerreira... dona “princesa”.... parece que vamos ter que dar uma saída agora. Espero que vocês se comportem. Deixarei dois homens de minha absoluta confiança aqui com vocês. Não terão problemas com invasores nem insetos por aqui então relaxem e aproveitem. Estaremos todos de volta antes do amanhecer. -Não queria ser chata, mestre zuagir, mas quando você pretende nos soltar? -Ah, Kitana... soltar vocês... esperem eu voltar e conversaremos sobre isso, certo? Com licença. O pirata e seus lacaios saíram deserto afora, então. As duas garotas ficaram na cela, confortavelmente enclausuradas enquanto os Zuagires cavalgavam o deserto em busca das pessoas que estavam atras deles. Um informante avisou o grupo de piratas que uma equipe de busca estava fazendo perguntas em Aratrustra e que levavam o brasão do Vale das Névoas. Lamorac não perdeu tempo pensando bobagens e foi direto para a cidade dos ladrões. Os Zuagires chegaram em Aratrustra no início da tarde. Um de seus colaboradores residentes já se prontificou a indicar a hospedaria onde estavam os cavaleiros. Lamorac sorriu com um olhar venenoso e ordenou a seu grupo que fizesse o que chamava de “cama de gato” com os cavaleiros do Vale. Na estalagem onde os homens de Halder faziam sua refeição havia um burburinho constante dos nativos presentes. O paladino estava incomodado com algo que não conseguia classificar, um sentimento estranho de eminência que jamais sentira. Não conseguia comer. Foi então que as portas se abriram e tanto do fundo do salão principal da hospedaria quanto da porta frontal que dava para a rua, entraram em torno de vinte Zuagires armados de espadas e arcos curtos. O balconista entrou por baixo do balcão em alguma porta secreta e desapareceu. As pessoas que a pouco cochichavam pelos cantos agora haviam se levantado e saíam pelas portas, passando pelos Zuagires coniventes. Logo haviam apenas os Zuagires cercando uma roda de cavaleiros assustados de armas em punho. O bardo era o único que não havia se movido, e continuava tomando seu vinho quente. Mordia as fatias de frutas que boiavam na bebida, e quem estava na estalagem poderia ouvir o som das mordidas a dez metros, tamanho o silêncio no recinto. Foi então que um dos Zuagires falou: -Pode entrar, senhor. Nenhum deles porta arco ou besta. E do alto da escada abriu-se a porta por onde entrou Lamorac, o Madalan do Zuagires de Kuthar. Halder então entendeu seu estranho sentimento. Lamorac não tinha um olhar calmo naquele momento. Ele estava nervoso com uma dúvida. Iniciou o diálogo: -Cavaleiros do Vale das Névoas perdidos em Aratrustra, no meio do Deserto de Kuthar... e sua visita se deve a algo que não seja a hospitalidade de nossas tavernas, presumo. Halder foi cauteloso e apenas articulou o necessário: -Não vim para conversar com ratos do deserto, com certeza. E como pode ver também não estou aqui pela comida. Porque nos cercam assim tão traiçoeiramente? Lamorac percebeu que seria uma conversa difícil, e não o interrogatório comum que faz com os viajantes do deserto. -Quem faz as perguntas por aqui sou eu, cavaleiro. O Vale das Névoas não tem nada que vir atravessar esse deserto e muito menos visitar nossas cidades. Vocês já costumam usar as rotas orientais para evitar nossas cidades. Não querem negociar conosco. Alegam que somos sujos e deixam nossas cidades apodrecer sem suprimentos. Achei que era consenso por parte de ambos os povos não nos relacionarmos. Me enganei, pelo que vejo. Me dêem um motivo para não pelá-los vivos. Halder sabe ouvir. Pelá-los seria o mesmo que viram com os anões secos do deserto. Teve certeza que estava falando com a pessoa certa, mas preferiu a cautela. -Bem, mestre Zuagir. Meu nome é Halder Bluebanner, cavaleiro da ordem de Péleas e um humilde servo da justiça. Não é minha intenção mais do que cruzar o deserto e devolver este bardo aos cuidados do reinado de Kalinor. Espero que minha idéia de cortar caminho pelo deserto não tenha sido um erro fatal. Lamorac viveu centenas de anos e já ouviu milhares de conversas. Sabe que os Cavaleiros de Péleas participam de uma ordem que preza a justiça e a verdade. Não ouviu falar em nenhum de seus integrantes tenha mentido. Porém a confiança cega em estranhos nunca foi um defeito do Madalan. O bardo continuava impassível comendo seu pão com sopa enquanto todos no recinto sentiam o sangue bombear pelos membros tensos. A pressão no ambiente era tão grande que podia-se ouvir o tempo passando pelas frestas da madeira na parede. A menção de Kalinor bastou como prova de que aquele grupo buscava a carga roubada pelos Zuagires. O grupo pequeno poderia corroborar na veracidade do relato feito pela “dublê” da princesa... mas aquele paladino incomodava Lamorac. -Se querem cruzar o deserto deveriam parar de perguntar sobre os Zuagires sempre que podem, como têm feito, cavaleiros. Podem seguir sua viagem. Mas se nos encontrarmos novamente haverá sangue e morte suficientes para que você veja que atalhos do deserto apenas são um caminho mais rápido para o túmulo.
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Espero que tenha sido uma boa leitura.
PUM!
- publicado às 10:49 AM -
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Saturday, November 11, 2006
Mais uma vez não vou publicar parte do conto, já que não está nem na metade do capítulo ainda.
Só gostaria de comunicar que o layout novo é um oferecimento da amiga Amanda.
As cores foram escolhidas segundo um processo de profunda análise dos gostos mais comuns entre o nosso público principal e a disposição dos textos também se dá ergonômicamente segundo algum procedimento científico que mesmo eu, do alto de meus quatro anos de faculdade, desconheço, tamanho o grau de complexidade da análise.
Tá, acho que simplesmente foi arbitrário e pessoal, mas eu gostei!
Ah... que mais... Bem, a ilustração do anjo em chamas também é uma loucura, não é?
É isso. Amanhã posto algo mais inspirado.
Por hoje me recolho à minha alcova.
PUM!
- publicado às 7:55 AM -
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Thursday, November 09, 2006
E chega a oitava parte do conto já quilométrico dos Zuagires de Kuthar. Hoje é dia nove de novembro. Um mês atras tracei uma meta que hoje estou cumprindo, que era esta: estar vivo. Pois é. Pra maioria pode ser banal, mas é ousado e pretencioso traçar esse tipo de meta. Mas que minha simplicidade fique de lado por alguns instantes enquanto saboreio este momento de vitória. Calculem quantas pessoas já morreram por este ou por aquele motivo durante vinte e oito anos. Pois é. Eu não estou na lista. Pode ser sorte, pode ser proteção divina ou eu posso ser matreiro, mas é isso, porra! Estou vivo! Infelizmente algumas pessoas de quem gostei muito não podem gozar deste meu momento de júbilo. Gostaria de brindar por eles, especialmente pelo meu saudoso amigo do curso, Flávio. Foi esse ano... O destino ou alguma força qualquer privaram-nos de compartilhar de sua risada amiga, de sua ironia mordaz e de sua sutil genialidade. Não apenas um leitor voraz de Gabriel Garcia Márquez, nem apenas um escritor resignado e afiado, e nem também apenas um colega de horas para excelentes prosas. Um amigo. Nada traduzível, por mais letras que conheçamos. Uma mesa vazia no banquete, pois era uma pessoa que ainda tinha muita coisa pra oferecer nessa vida nossa. Perdemos muito, acreditem todos, com a passagem dele. Inspiradora foi sua presença em minha vida. E quisera poder ter melhores argumentos para relembrá-lo. Era simples. Não deveria ser lembrado com floreios ou firulas. Era especial e merecia algo melhor que esta minha pálida homenagem. Mas estou vivo e vou sempre me lembrar dele. Essa minha vitória hoje tem um sabor melhor que antes dele, pois sei que compartilhei momentos bacanas com ele enquanto conversávamos no quiosque ao lado de nosso bloco na faculdade. ATé na sala de aula a gente falava um bom tanto. Até jogamos RPG por lá. Foi especial ter recebido tanto do tempo que ele teve na terra. Tempo breve. É isso. Saudade tem sido uma companhia constante. Por ele permanente. Me fez lembrar que a saudade que sinto de pessoas queridas hoje distantes... grandes amigos... gente especial pra mim... amores... são saudades dolorosas que devem ser vistas com menos egoísmo por mim. Afinal se estou vivo aquí com tantas lembranças boas... é um presente e uma sorte. E é sua também. Sou grato pelas companhias que tenho e tive. Hoje estou aquí, vivo. E é uma puta farra estar vivo!
...
Ah, é, o conto:
Aratrustra
Halder veste uma armadura composta de placas de ferro bastante brilhantes, coberta por uma capa azul, como são as cores do brasão de seu reino. Sobre o lado direito de seu peito um medalhão engastado com o símbolo de seu deus Péleas, protetor dos guerreiros de causa justa. Mas sob esta armadura, sob os músculos treinados e os nervos aguçados, um homem angustiado por uma busca interior infinda se questiona que crime sua alma cometeu para ser atirada neste mundo injusto. Os olhos azuis do paladino se espremiam para distinguir formas nas ruas confusas de Aratrustra. Mercados apinhados de mulheres infelizes e homens malcheirosos formavam um imenso corredor até o centro da cidade, onde o castelo do sultão Agbalor apontava para um céu azul e nu. O próprio vento soprava quente o cheiro de excrescências que corriam por valas sob a narina de todos. Casas de argila seca, telhados de folhas brancas e poeira calcinante faziam a vista doer com tanta alvura. Os homens de Halder então começaram a se entreolhar. Treinados pelo devoto de Péleas por longos anos, já sabem quando algo está errado apenas pela forma com que o paladino segura o cabo de sua arma. Nervosamente batendo os dedos na bainha enquanto tensamente parece estar prestes a sacar a lâmina consagrada de sua espada. Alguns transeuntes se dirigem até o grupo de guerreiros desatentamente enquanto conversam. Então se cruzam de forma confusa, como quem esbarra sem perceber que as rotas se cruzavam. Os nativos então pedem licença e continuam conversando enquanto passam pelo grupo de aventureiros. Balonius então canta:
A bondade de um homem tolo Em ceder de seus bens Só não é maior Que a malícia torpe Do homem que lhe tomou o ouro
Finéas, um dos aventureiros do grupo percebe que seu pequeno saco de dinheiro sumiu. Felizmente o bardo foi rápido nas notas e quando o guerreiro se deu conta do furto ainda tinha os perpetrantes ao alcance de seu aço. Um imenso machado de duas lâminas traçou uma meia-lua no ar, e como a estrela cadente toca o horizonte mansamente, abriu o ladrão num baque surdo e discreto. O infeliz ainda deu dois passos antes de perceber que havia sido agraciado com o golpe cruel de um mestre de armas. Seu corpo se abriu no meio de uma de suas palavras, diante dos olhos incrédulos de seus amigos. Assustados contemplaram o grupo vindo do Vale das Névoas, que furioso sacava lentamente suas exóticas armas. -Não nos matem, senhores! Somos apenas transeuntes comuns vindo de um bar e sem bens que lhes interessem. -O ouro que aquele homem porta em sua mão direita, agora distante alguns metros da mão esquerda, me pertence. Eu sou Finéas Randomblade, cavaleiros do vale. Não um tolo aguardando um punguista. A rua toda então se comoveu com toda a confusão e não levou mais de dois minutos até a guarda da cidade aparecer. -Que baderna é esta em nossa pacífica cidade? Quem são estes homens portando armas em um local tão pacífico? O guarda que hipocritamente proferiu estas palavras vestia uma armadura negra de couro sob uma pequena capa vermelha, e sobre a cabeça vestia um lenço xadrez de cores vermelha e preta, que devem ser as cores do reino. -Acabamos de tornar sua cidade mais segura. Aquele sujeito caído em duas partes era um ladrão, e aquelas peças que estão em sua mão não eram suas. Finéas disse isto seguro de estar falando com um homem da lei. Mas, que tipo de lei encontraram em Aratrustra? -A justiça dos homens aqui se dá apenas no palácio do sultão, forasteiro. Passarão impunes por esta atrocidade apenas por serem ignorantes de nossa lei. Se encontrar vocês perto de outro cadáver, serão todos presos. Percebendo que teriam de pagar o homem da lei, que olhava com malícia para eles enquanto falava, Aghyom, um dos cavaleiros, cedeu de seu ouro pelo bem do grupo. -E a parte do ladrão fica conosco por evidência- disse um dos guardas. Uma saudação e os dois grupos saem, deixando o corpo repartido para os amigos do morto carregarem. Triste, Halder percebe que está encontrando um mundo bem diferente daquele onde cresceu, no Vale das Névoas. No Vale a Religião, como chamam, rege as leis e os costumes. Não se preza o furto ou as trapaças como viu nesta terra de Aratrustra. Pesaroso pelas almas dos locais, passa entre eles sombrio. Seu grupo então escolhe uma estalagem e abriga os cavalos. A noite não tardará e será nesta noite que irão tentar descobrir se alguém sabe que tipo de pessoa poderia ter atacado o abrigo dos anões e levado a princesa consigo.
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Parece que vai dar trabalho achar essa guria.
PUM!
- publicado às 1:23 PM -
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Wednesday, November 08, 2006
Feliz hoje para todos vocês! Faz tempo que não dou essa saudação.... E vai aí a sétima parte do conto.
A Busca Pela Princesa Desaparecida
A viajem de Kalinor até o Vale das Névoas leva qualquer coisa em torno de um mês. Não é simples a travessia do deserto, e a viajem como teria sido feita levaria duas semanas e meia. O problema é que haviam se passado três semanas desde que a caravana trazendo a princesa saiu de Kalinor. Com o atraso de quatro dias que a viajem levou o príncipe do Vale ficou preocupado e decidiu enviar uma patrulha para ir de encontro à caravana da princesa de Kalinor.
Sendo o príncipe uma pessoa de peso desproporcional ao exagero, pouca habilidade no cavalgar e nenhuma especialidade com arma alguma que não sua faca de carne e seu garfinho de petiscos, ordenou a seu próprio chefe da guarda que guiasse um grupo na busca.
Assim se deu que em algumas horas estava partindo o paladino Halder Bluebanner, montado em seu corcel de guerra levando consigo dez cavaleiros prontos para a batalha, além de uma carroça com provisões para uma semana e o bardo Balonius.
O cuidado do príncipe tinha seus fundamentos deturpados. Primeiro não era tão grandemente dotado de autoconfiança como de adiposidade abdominal. Depois, porque sabia que era realmente uma pechincha conseguir uma união tão vantajosa e ainda uma bela esposa, sendo seu reino razoavelmente decadente, enquanto Kalinor era uma jóia do oeste, e sendo ele sabidamente criatura repugnante.
Enviou um paladino já pensando em não ter problemas do tipo paixão entre mocinha e salvador, devido ao notório voto de castidade dos paladinos. Os dez homens também foram escolhidos a dedo. Todos horrendos e com contratos bastante restritivos. O bardo era a precaução final. Balonius é simplesmente o bardo mais conhecido nos quatro cantos do continente e suas canções jamais mentem, dizem por aí. Com ele junto, não havia como acontecer algo sem que o príncipe saber.
Seguiram norte, até as cordilheiras fronteiriças do deserto durante três dias sem parar para descançar ou para qualquer coisa que não defecar. No estreito de Kotton, ponto mais comum de travessia entre os picos e montes da cordilheira, montaram seu primeiro acampamento no intento de vasculhar o perímetro em busca de pistas e também na intenção de encontrar a caravana chegando.
Depois de uma noite e um dia não encontraram sinal algum da dita caravana nem ela mesma chegou. Urgente em sua tarefa, Halder ordenou o desmonte do acampamento e a partida imediata.
Uma garoa torrencial molhou todos do grupo enquanto cortavam as estreitas passagens da cadeia de montes e penhascos. O bardo cantou, sob uma pele pesada que protegia seu banjo tão magnífico.
Por caminhos estreitos passa o príncipe
Em sua busca serena
Como é a vida do homem tão certa
Vai salvar sua pequena
O paladino se incomodou com o verso cantando a vitória do príncipe, não por vaidade, mas por não tolerar a mentira. Olhando por sobre os ombros para o bardo perguntou:
-Canta o bardo que o príncipe vai até a donzela com certa leviandade, notei. Por acaso te referes a mim como a vontade do príncipe e portanto sua presença, ou te ocupas em distorcer os fatos por razões mais terrenas, bardo?
Num sorriso o bardo responde:
-Sou um bardo e canto tudo que vejo. Pois se cantasse tudo que penso não teria público algum como não tem amigos o homem que diz tudo que lhe vem à cabeça. Podes sim entender que tua mão é guiada pela vontade do seu senhor, que é senhor sob a tutela do rei Hamull que é assim entronado sob os deuses que atendem ao grande interesse que todo humano desconhece mas que busca infinitamente como uma mariposa busca a lanterna. Ou pode me ver como um mentiroso que enganou a todo o mundo conhecido com as verdades que os poderosos mais gostam. Pense o que bem entender, porque eu toco as cordas e canto as canções, mas cabe somente ao homem ter a capacidade de ouvir e escutar e não tenho o poder de trazer a ópera ao ouvido de pedras ou castiçais. Pois bem te digo, e duvide de mim se não quiser ver com meus olhos, estou diante de um príncipe decidido a salvar sua princesa e nada me convencerá do contrário.
Apesar de conhecer os bardos e suas manias, Halder achou a prosa do artista muito confusa e preferiu ignorar a companhia, que dedilhou em busca da canção certa para a aventura durante os dois dias de cavalgada que levaram para chegar às fronteiras do Deserto de Khutar.
Algumas horas depois de iniciada novamente uma busca nos arredores notaram no horizonte distante alguns abutres voando baixo. Halder então ordenou o armamento de um acampamento e levou consigo mais cinco homens para averiguar o local apontado pelas aves de rapina.
O bardo foi junto.
A cautela de um nobre
É qualidade muita rara
E a coragem em um homem
É aqui grandemente encontrada
Os versos do bardo soavam pífios aos ouvidos do paladino, que chegando ao local onde os decompositores se refestelavam ficou muito horrorizado. Deparou-se com dezenas de anões mortos, vários deles absurdamente desfigurados. Claramente havia acontecido uma grande atrocidade ali. Mais adiante encontraram uma caverna, que estaria perfeitamente oculta não fosse pelos corpos de anões putrefatos jazendo diante da entrada da gruta.
Tudo havia sido saqueado, todos haviam sido mortos e apenas sinais de luta e tortura marcavam o local com sua profana presença. Halder se deteve em uma sala mais afastada, onde haviam duas mesas de pedra, algumas cordas, algumas correntes e vários corpos. Roupas no chão também intrigaram o paladino, que pediu uma tocha para melhor enteder o local e notou que uma das cordas tinha sangue. Perto dela então encontrou algo que parece ter passado desapercebido pelos saqueadores: um pequeno anel de prata com um brasão delicado. A marca de Kalinor. O anel da princesa.
Depois de examinar todos os corpos com muito cuidado, Halder concluiu que houve um ataque por parte dos infames Zuagires de Khutar e que a princesa, antes cativa dos anões, agora estaria sob a tirania dos saqueadores do deserto.
Terminada a perícia dirigiram-se para a cidade mais próxima, no deserto, conhecida por Aratrusta. Um antro de ladrões e comércio imoral. Distante alguns quilômetros bastante longos do esconderijo dos Zuagires.
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Pum!
- publicado às 6:12 AM -
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Monday, November 06, 2006
Todos devemos ser gratos pelo que temos e ávidos pelo que é dos outros, já dizia um velho sábio que de sábio não tinha nada. O tempo para correções neste capítulo foi zero, então está crú e sem tempero. Ingulam a sexta parte da historia dos Zuagires... que pra quem não sabe é o nome do grupo de piratas do deserto que Conan lidera por alguns anos em suas andanças pelo mundo até a coroa de aço da Aquilônia. Me apropriei da palavra respeitosamente. Espero que leiam.
A Dor da Partida e a Dor da Volta
A pele macia da princesa estava toda rasgada em seus pulsos. Escapar das cordas foi um truque caro. Possível apenas para uma pessoa de grave obstinação e ossos finos e delicados. Ainda assim haviam grilhões sobre os ferimentos. A caravana dos piratas estava voltando para o esconderijo dos Zuagires em absoluto silêncio. Lamorac marchava com sua nova égua bem adiante e de forma orgulhosa e imponente. Reaver um bem roubado era para ele um grande feito, dadas as dimensões do deserto e a distância entre o ponto onde houve a perda e o ponto onde houve o reencontro. Parece que não houve uma baixa sequer entre os Zuagires no ataque ao esconderijo dos anões. O grupo estava confiante porém enojado com a podridão do abrigo dos anões.
Chegando ao esconderijo da tropa de Lamorac as duas garotas foram levadas, em correntes, até a sala do poderoso senhor dos Zuagires.
Era uma sala toda forrada de almofadas e tapetes com os mais variados padrões e temas. Vinham das mais variadas origens, como tudo mais na toca dos saqueadores.
-Eu sou Lamorac-disse o homem enquanto as mulheres se sentavam sobre um enorme cobertor de pele de urso branco.
-Eu sou o senhor dos Zuagires. Eles me chamam de Lamorac ou então de Madalan, que é meu cargo entre eles. Significa “líder saqueador” ou então “fuinha vermelha”. Ainda prefiro o meu nome mesmo. Vocês podem notar que enquanto meus homens são morenos e atarracados eu sou razoavelmente claro e exibo cabelos prateados, além de ser bem mais alto que eles e melhor equipado pela natureza no quesito inteligência. Isto se deve ao fato de eu não ser um humano como eles... ou vocês. Meu pai era humano sim, mas minha mãe não. Ela era uma amazona que liderava um grupo de mulheres saqueadoras que operava nas baixadas do Vale das Névoas. Conheceu meu pai num saque. Ele morreu antes que eu pudesse nascer. Minha mãe era uma mestiça, como vocês chamam uma cria de humanos e elfos. Eu sou, portanto, um mestiço também.
Kitana fez uma expressão séria e fitou os olhos do homem que alí, diante de duas prisioneiras fugidas, contava a história de sua vida.
-Aconteceu pela vontade do destino que ela teve um filho homem. Eu. A lei ordenava que ela me matasse, mas não foi o que houve, conforme posso atestar pela minha existência entre os vivos. Deu-me à um mercador que sobreviveu a um de seus saques, e este me vendeu a um ferreiro, que precisava de um escravo para sua forja. Trabalhei com ele até sua morte, quarenta anos depois. Fiquei por alguns anos levando adiante os negócios em seu lugar, até que a cidade onde vivia foi atacada pelos impiedosos orcs de Tenébria. Isso já faz mais de duzentos anos. Andei pela terra desgarrado, vivendo do meu ofício onde pude, até o dia em que o antigo Madalan arregimentou-me para trabalhar neste mesmo abrigo consertando as armas, ferrando os cavalos e fazendo panelas. Porém vieram tempos difíceis com a queda de Hagaenea, Damáscia e a ascenção de Bergstrand e os negócios tiveram de ser revistos. Matei o homem em um duelo justo pela liderança dos Zuagires e aquí estou já faz uns cinquenta anos. Esses homens nascem e morrem sob minha proteção, e assim será para sempre, até que as estrelas se apaguem ou que algum homem me derrote num combate justo pela liderança deste clã.
Nem a princesa nem sua guardiã estavam entendendo o porque dessa conversa. O vinho foi servido e todos os três beberam. O Zuagir contou histórias sobre criaturas do deserto, sobre homens e mulheres e sobre tesouros perdidos. As garotas também contaram suas histórias. Kitana contou sobre deuses e conquistadores, de quem tanto gosta de tomar modelo. A princesa contou histórias infantis e cantou algumas canções antigas.
Lamorac então perguntou.
-Você não é uma duquesa ou uma sacerdotisa, certo garotinha? Seus modos e postura... você tem o porte nobre de alguma coisa mais nobre. Como se deu de estar tão mal-guardada? E quem é você?
O silêncio voltou à sala. A guardiã julgava que o homem sabia o valor de sua presa, mas não era o que parecia. Não podia então simplesmente entregar a realeza de sua protegida assim, de mão beijada. Suou frio quando a própria princesa respondeu:
-Sou uma sósia da princesa Shandala, de Kalinor. Minha guarda é bem mais descuidada que a da princesa, para meu infortúnio, e integrada por pessoas de competência questionável. Quisera ter mais sorte nessa vida.
Kitana se sentiu com a queixa da princesa. Teria gratamente dado sua vida por ela, caso fosse o bastante para pôr fim ao infortúnio que as persegue.
Curiosamente a inocente princesa conseguiu enganar o líder dos piratas que vive a centenas de anos. Ele riu da história, que o rosto desapontado de Kitana pareceu confirmar, aos olhos do Zuagir.
Noite então passou com mais conversas e mais canções, que o homem conhecia às centenas.
-Bem, espero que tenham gostado desta noite. Me foi de grande agrado. A muito não tenho mais que estes chacais do deserto para conversar, ou as vadias de corpos quentes para me cantar suas músicas repetitivas. Sinto muito, mas a partir de agora vocês terão de dormir acorrentadas. E a cela de vocês será outra, mais discreta e reservada. Espero que nossas orgias não obriguem vocês a fugir novamente.
As cativas foram então levadas até sua nova cela, toda forrada de tapetes e almofadas. A porta desta vez estava muito melhor afixada à parede. Provavelmente era uma das salas de tesouro dos piratas. A única adaptação parece ter sido uma bela janela para que as confinadas tivessem algum ar. Lá ficaram acorrentadas por semanas. E noite sim, noite não, eram levadas à companhia de Lamorac para suas noites de distração.
É como se diz. Quando se vai embora de um lugar e se volta, o lugar nunca é o mesmo que se deixou e quem volta também nunca é o mesmo que saiu.
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Nem todo mundo é tão mau quanto você pensa, coleguinha.
PUM!
- publicado às 6:06 AM -
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Sunday, November 05, 2006
Olá, meu povo e minha póva! Segue a quinta parte da lamentável saga das mulheres perdidas no deserto de Kuthar, entre ladrões e canalhas... como todos nos sentimos por momentos... mas não hoje.
A Estrela Escarlate de Lamorac
As duas já haviam informado Lamorac que o anão não havia conseguido seu intento devido a uma surpreendente reação da realeza presente. Isto muito intrigou o senhor dos piratas, mas não havia tempo para perguntas. Vestidas novamente, foram acorrentadas para serem levadas ao esconderijo do Zuagires novamente.
Na saída da toca dos anões, puderam contemplar o que é a estrela escarlate que Lamorac ordenou sobre os derrotados. Seus pulsos eram cortados no couro antes de perfurar a carne e presos por ganchos a cordas. O mesmo se deu com os tornozelos. O artifício é usar quatro cavalos para tracionar as cordas. O couro dos anões saiu por completo de sua carne agora exposta na forma de uma estrela rubra. Ficariam ali aquelas dezenas de seres viventes, até que os besouros do deserto fizessem seu serviço de limpeza ecológica. O ar ficou repleto de gritos. Era o som que deixou para trás Lamorac, levando suas duas presas de volta ao cativeiro.
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Capítulo curto. Só tortura.
PUM!
- publicado às 6:02 PM -
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Saturday, November 04, 2006
Dia quatro de novembro. Ontem foi um dia especial. Hoje será um dia interessante. Espero que gostem da quarta parte de Zuagires de Kuthar. Até amanhã.
A Cavalaria do Deserto
Amarrada nua sobre uma pedra, Kitana acordou. Suas pernas estavam abertas expondo suas partes à um grupo de anões ansiosos. Seus braços amarrados sobre a cabeça por forte corda se debatiam em vão. O barulho fez a princesa, em igual condição, gritar. A porta se abriu e mais oito anões se somaram aos cinco já presentes. Confabulavam em uma língua que era estranha tanto a Kitana quanto à princesa. Logo estavam sérios e sombrios. Entra então um outro anão. Este muito maior em porte que os outros. Evidentemente o líder, que Kitana pôde identificar pela repetição de seu nome como Araudin. E Araudin olhou com seus olhos lascivos os corpos expostos na pedra, deixando um riso asqueroso escapar de sua boca quase banguela. Falou com rispidez aos outros presentes, entre eles os dois sobreviventes da captura matinal. Todos então saíram e fecharam a porta atrás de si. Menos Araudin. Foi então que a princesa começou a chorar. O maldito estava se despindo. Ria baixinho e roucamente um riso malicioso. Porco. Seu corpo sujo então mostrou às damas suas asquerosas proporções que se aproximavam lentamente. Kitana sentiu aquela mão tocar seu corpo com nojo. Uma língua seguiu e então o anão estava sobre a pedra. Por todos os deuses, o horror era eminente. Deitado sobre a guerreira o nojento ser acomodava suas pernas para a estocada de seu membro quando seu ouvido esquerdo foi agraciado com um pontapé certeiro. Desequilibrado cambaleou por instantes, até que sua própria faca, deixada entre suas roupas ao chão, foi sacada por outra pessoa e usada para abrir sua garganta imunda. A barba empolada de sangue se encharcou de vermelho e o corpo caiu gargarejando com a morte. Embasbacada não acreditou ao ver que a princesa havia escapado e derrotado o terrível anão tarado. Ficou em choque por vários minutos, enquanto Kitana a observava com pasmar. Mas sim, lembrou-se que apesar da princesa jamais ter deixado o castelo para brincar ou coisa assim, tinha o sangue de conquistadores nas veias. Talvez fosse essa a explicação. Pediu então à sua princesa que a soltasse das amarras. Soltas ambas, armaram-se com uma faca e uma lança curta para cada uma. Abriram a porta com cuidado, mas oh destino infeliz! Novamente sorri a infâmia. Deram de cara com dois guardas, que gritaram de pronto chamando mais guardas. Fecharam a porta rapidamente. Estavam segurando com força a porta de madeira, que era golpeada insistentemente pelos anões. O barulho do lado de fora só aumentava. A força com que impeliam a porta só crescia. As duas, nuas naquele lugar, desesperadas, apenas se concentravam em viver. Em segurar aquela maré viva de desgraça. Os gritos então aumentaram e a força redobrou. Era como se o próprio deserto tivesse soltado todos os ventos sobre a porta, todo o peso das areias sobre aquela pequena construção humana. A porta então cedeu lentamente até que as mãos e seus dedos curtos puderam segurá-la. Foi nesta hora que se escancarou e dezenas de anões entraram loucos sala adentro. As duas garotas foram atropeladas pela turba, que se acomodou assustada no canto mais afastado da sala. Intrigadas com a reação olharam para a porta e mal puderam crer em seus olhos. Lamorac e seus homens haviam invadido o covil dos anões. Os gritos que ouviram em crescendo eram gritos de morte. A força era a força do desespero. E a causa era a chegada dos Zuagires de Lamorac. -Lagartos baixos. Criaturas hediondas. Abusaram destas duas humanas com seus ridículos corpos atarracados. Não há fim para a dor que conhecerão hoje. Zuagires, capturem-nos e mostrem a eles a estrela escarlate.
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É, e assim ficamos por hora. Até a próxima.
- publicado às 9:06 AM -
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Friday, November 03, 2006
Depois do breve interlúdio, segue a terceira parte dos Zuagires de Kuthar, entitulada:
A Fuga da Princesa
Realmente os cavalos dos zuagires são dignos de nota. Suas pernas são curtas, mas seus corpos são longos e suas patas largas. Não se sabe ainda como podem correr tanto com tão pouca água. As duas mulheres estavam fugindo sobre o mesmo cavalo. Já faziam horas que cavalgavam pelo deserto, seguindo a última estrela do Arco de Hagen, que aponta eternamente para o sul. O Vale das Névoas estava cada vez mais perto. Enquanto todos passaram a noite na esbórnia, Kitana usou seu prato afiado para desgastar uma das partes rebocadas que afixavam a grade de ferro à parede de pedra. Não houve problemas para ela em degolar os dois guardas que estavam no caminho. O primeiro realmente caiu com uma canecada na nuca, mas o outro foi degolado com a espada do primeiro.
Era uma manhã de fuga. O sol estava tremeluzindo no horizonte se preparando para iniciar seu açoite diário aos viajantes e à areia impassível. Kitana sabia que era uma questão de horas até que se dessem conta de sua fuga, então aproveitou para dobrar o pique da corrida.
Oh destino infeliz. As rochas que anunciam o promontório que faz divisa do deserto com o vale onde as névoas jamais cessam já eram avistadas quando um encontro muito inusitado derrubou as duas garotas do cavalo, que caiu morto imediatamente. Naquela região amaldiçoada pelos deuses vive uma raça maldita de anões, os Mingraumir. Vivem de trabalhos de artesanatos com metais pouco nobres, cristais que encontram nas cavernas entre as rochas arenosas. Vivem também de pequenas emboscadas que realizam nas rotas mais obscuras entre o mundo civilizado e o deserto inclemente. No caso, usaram uma corda para derrubar o cavalo das mulheres sobre uma estaca. O pescoço do cavalo se abriu empapando as areias com o sangue grosso que lhe provia a vida.
A princesa estava bem, apenas aturdida. Kitana foi até ela e ficou em posição de batalha aguardando a aparição de seus oponentes.
De trás de uma pedra sai o primeiro anão, vestindo um pano branco sobre sua armadura rústica de couro de lagarto. E de mais duas pedras saem outros quatro anões, igualmente trajados e munidos de lanças curtas. Suas barbas parecem palha esbranquiçada e suas peles queimadas de sol são quase negras. Os olhos são de um profundo negro, como a raiz de seus cabelos, onde o sol ainda não queimou à alvura.
Avançaram os cinco em uma carga ligeira. O primeiro mirou nos joelhos da defensora real, que saltou sobre o inimigo e pisou seu rosto com força e técnica invejáveis. Tendo o rosto deslocado, o anão caiu sobre uma pedra próxima. Um baque surdo e um crânio aberto depois, ele morre.
Os outros ainda corriam quando Kitana tocou o solo. Dois anões então atacaram em uníssono visando o quadril da guerreira, que numa rebolada inacreditável ganhou impulso para girar sua recém roubada cimitarra e abrir a garganta de um dos anões. O outro ainda tentou outra estocada com sua lança, quando recebeu um fortíssimo pontapé no queixo, seguido de uma perfuração abdominal perpetrada por objeto cortante. Varado com a cimitarra, morreu de pé.
A mulher então nota que mais dois estão vindo e não tem como bater a tempo devido ao cadáver que emperra sua espada. Reagindo com a rapidez e a frieza que apenas as pessoas que acumularam muita experiência de combate podem demonstrar, chutou novamente o anão morto e com toda sua força desvencilhou-se do peso morto lançando-o sobre um dos anões que vinha em ataque. Porém foi pega de guarda baixa pelo anão restante, que golpeou seu quadril com a lança imunda, tocando o osso da bacia da guerreira e tirando-lhe o equilíbrio. Caída teve apenas tempo de descobrir que a rapidez dos anões em lutar contra seres deitados depois de derrubados é fruto de treino e muita prática. A mulher recebeu um golpe certeiro na cabeça e apagou.
Foi uma fuga rápida, que acabou rápido em um novo cativeiro. Desmaiada, nem sequer viu como também foi levada a princesa. Submersa em torpor inconsciente ao menos deu a seu corpo um instante de descanso depois de duas noites insones.
Acordou seis horas depois, apenas para descobrir que os anões da fronteira fazem os Zuagires parecerem um bando de freiras pudicas.
- publicado às 9:44 AM -
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Então... dessa vez não vou postar a outra parte do conto. Que triste, né? Mas vou publicar o resultado desse testinho que fiz ontem, seguindo a indicação de uma amiga. É bem simples. Tinha umas oito cores na tela e eu escolhí num a determinada ordem. Baseado em algum modelo de algoritmo complexo e num banco de dados copiado de alguma vidente bêbada eles criaram um programa que diz sobre a personalidade da pessoa conforme a combinação escolhida. True beauty. Então, segue o resultado deste humilde servo.
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Como você opera, age, frente aos seus objetivos e desejos:
Busca uma relação afetuosa, que ofereça realização e felicidade. É capaz de entusiasmo emocional intenso. É prestativo e disposto a adaptar-se, se necessário, para realizar o laço afetivo que deseja. Precisa da mesma consideração e compreensão que dispensa aos outros.
Quer afastar os empecilhos que estão no seu caminho, obedecer aos seus impulsos e ser envolvido em acontecimentos importantes ou sensacionais. Desta forma, espera diminuir a intensidade dos seus conflitos, mas o seu comportamento impulsivo leva-o a situações imprevistas e perigosas.
Suas preferências reais:
É impulsivo e irritável. Seus desejos e as ações a eles relacionadas são de suma importância, dando pouca atenção as suas conseqüências. Isto leva a tensão ou conflito, ou é originário de conflito e tensão.
Necessita de paz e tranqüilidade. Deseja um cônjuge amante e fiel, do qual possa exigir consideração especial e afeto incondicional. Se essas exigências não são satisfeitas, é capaz de se afastar e isolar-se de todo.
Sua situação real:
Sente que não pode fazer muito, quanto aos seus problemas e dificuldades presentes, e que deve conformar-se com as coisas como são. É capaz de conseguir satisfação através da atividade sexual.
As circunstâncias o estão obrigando a transigir, a reprimir suas exigências e esperanças, e a abrir mão, por ora, de algumas das coisas que deseja.
O que você quer evitar:
Interpretação fisiológica: As decepções tornaram-no desconfiado e o levaram a um afastamento isolado, obrigando-o a concentrar-se em si mesmo. Interpretação psicológica: Reprime seu entusiasmo e sua imaginação, por temer que possa empolgar-se, apenas para verificar que, finalmente está buscando alguma coisa ilusória. Sente que tem sido enganado e maltratado e retraiu-se para manter-se cautelosamente distante dos outros. Está Atento e crítico para ver se as intenções em relação a ele são sinceras - uma precaução que se transforma facilmente em suspeita e desconfiança. Em suma: "Gato escaldado pela água fria tem medo"; desapontamento emocional sempre atento à desconfiança quanto às intenções.
Interpretação fisiológica: Tensão oriunda da incapacidade de manter relações de maneira estável na sua condição desejada. Interpretação psicológica: É sensível e suscetível à doçura e à delicadeza de sentimentos, com um desejo de unir-se em algum tipo de fusão mística de harmonia erótica. Todavia, este desejo permanece insatisfeito devido à falta de um cônjuge adequado ou a condições adversas, e mantém um controle rígido e permanente sobre suas relações emocionais, já que precisa saber onde está exatamente. É difícil de contentar, é esteta e tem gosto apurado.que lhe permite formar a expressar seu próprio critério e julgamento, especialmente nos campos da arte e da criatividade artística. Esforça-se por se unir a outros que possam ajudá-lo em seu desenvolvimento intelectual ou artístico. Em suma: Sensibilidade artística sublimada.
Seu problema real:
Precisa proteger-se contra a tendência para confiar demais, já que julga estar sujeito a ser incompreendido ou explorado pelos outros. Portanto, está procurando uma união de intimidade tranqüila e compreensiva em que possa haver perfeito entrosamento.
O desapontamento e o temor de que não vale a pena formular novas metas têm levado a tensão e ansiedade. Deseja ter contato adequado com outros e campo de ação para evoluir, mas sente que suas relações são vazias e que não este progredindo. Reage com uma atividade intensa e zelosa, destinada a alcançar suas metas a qualquer preço.
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Poir é. Foi isso que saiu. Tem umas duas ou noventa coisas aí que servem, mas acho que você também se identificaria. Recomendo muito cuidado para a leitura da última sentença. Ela é digna de nota. Repare como não tem muita (ou nenhuma) lógica.
PUM!
- publicado às 9:36 AM -
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Já nem lembro da minha cama. Ví mais filme que posso aguentar.... E putz, Trainspotting é foda. Tá na lista mesmo! Colateral (que ví de novo) também é bruto. Fome Animal... sem comentários! Mas chega de lista de filme. E pra continuar a história, a parte 2 dos Zuagires de Kuthar!!!!
O Cativeiro da Princesa
Kitana é uma guerreira do oriente, treinada no uso de diversas artimanhas de batalha. Não foi a primeira vez que foi aprisionada por ladrões. Sempre escapou. Só seria mais fácil se não tivesse de escapar levando também a princesa de Kalinor, a quem jurou proteger. A caverna secreta dos zuagires, onde agora era uma cativa, fica sob o deserto entre um pequeno desfiladeiro e um aglomerado de rochas arenosas já bem arredondadas pelo vento. Iluminada em todo seu interior por velas de uma estranha chama azul a caverna também conta com sua própria mina d’água, que forma um pequeno lago nas partes mais profundas da gruta. Inúmeras passagens ocultas pelas sombras levam às alcovas dos corsários do deserto. Suas vozes sussurrantes e seus passos discretos fazem o lugar lembrar uma espécie de monastério proibido, decorado com tapeçarias roubadas de todo o mundo conhecido e até mesmo de alguns artefatos de origem inimaginável. Uma grade presa à parede firme confinava as duas damas numa prisão fria e mal iluminada. Paços anunciam a aproximação do senhor dos zuagires. Lamorac então bate com seu grande anel de platina contra a grade de ferro. Kitana levanta seu rosto e oprime seus olhos de raiva, fitando secamente o ladrão. - Cara feia pra mim é fome, donzela da espada cantante. - Então coma mais, ladrão sujo. Você me lembra um ânus. - Haha! Mesmo amarrada a cabrita dá coices! - Essa cabrita aqui tem força para matar mil ladrões como você. - Então guarde as forças para o dia em que encontrar mil homens como eu. Tendo dito isto fez sinal para um de seus homens que passou por baixo da grade dois pratos com comida fresca e então dois copos de água gelada. A princesa continuou nas sombras, enquanto sua guardiã encarava furiosamente seus captores. Depois de alguns segundos de silêncio Lamorac e seus zuagires seguiram corredor abaixo. O som de risos cresceu quando os passos cessaram. Kitana então percebeu que estava acontecendo alguma festa mais para baixo nas sombrias catacumbas dos zuagires. Não mais necessitando se fazer de forte, deixou de lado a arrogância e levou consigo seu prato e copo, bem como os da princesa e ambas se alimentaram. Tão logo terminaram sua refeição houve um breve momento de silêncio lacônico. Então a delicada boca da princesa se abriu para cantar suas palavras: -Não tivemos sorte hoje, minha boa serva. Mas sua temperança nos garantiu mais tempo que nossos colegas de viajem tiveram. -Minha magnânima e lisonjeira senhorita está sendo muito inocente em sua afirmação, sinto contrariar. Estamos aqui entre os vivos apenas por sermos as únicas mulheres na caravana. E também pelo senhor dos zuagires parecer um bufão metido a nobre senhor. Antes do fim desta noite tenho certeza que estará bêbado tentando nos despir e abusar de nossos corpos. -O nome dele é Lamorac, não é Kitana? -Sim, amada princesa. Mas não sei mais nada dele, a não ser que é um porco sujo e ladrão. -Kitana... esta caravana estava me levando para o Vale das Névoas. Lá iria Ter com meu pretendente, o conde Octávius Stanke, suserano do vale enevoado. Não queria conhecê-lo, para ser sincera. Meu pai já me apresentou dezenas de pretendentes. Nestes curtos anos de minha vida não tive mais que alguns minutos de prazer. Todos encontrados entre páginas de livros e breves olhares pela janela de minha torre. Você fala com raiva do zuagir, mas para mim é um estranho. E não sei ter raiva de estranhos. A guardiã então contempla com languidez a pobre princesa. Sabe que é apenas uma garota mimada que pensa estar presa numa gaiola de ouro, mas que na verdade tem a vida que qualquer garota desejaria ter. Sem fome ou medo, ou tendo de se prostituir como tantas das amigas que Kitana teve na infância tiveram de fazer ao criar seios e recheio para as ancas. -Minha princesa está sendo infantil novamente, devo advertir para seu próprio bem. Sua tão monótona vida pode não ter o vento nos cabelos ou os amantes entre as coxas que tantas mulheres têm mas por outro lado não precisa se preocupar em morrer de sífilis por conta de um estuprador sujo ou de lepra por viver nos guetos. Nem precisa usar a imaginação para saber de uma uva. Tens mel para o pão e vinho para a janta. Bem... tinhas, até ser apanhada sem a guarda real de Kalinor. -Confesso que estou entediada com minha vida sim. Gostaria de poder dar um basta a tudo isso e ter essas coisas todas que você falou. Meus pés nunca foram colocados sobre a terra molhada de chuva ou sobre um galho de árvore para pegar uma fruta. Isto, minha guardiã, não é vida. Isto é estar à exibição. A garota falava de coisas que não sabia, pensou Kitana, e merecia o silêncio com que foi agraciada depois de sua afirmação. Mas não merecia, pensou também, ser currada por uma turba de ladrões que vivem no deserto. Kitana então olhou para seus pratos de bronze e seus canecos de ferro. Pegou então um dos pratos e começou a afiar esfregando contra uma das paredes de pedra. O som da festa dos ladrões abafou e muito o som produzido pelo esforço da guerreira. Depois de alguns minutos a princesa se cansou do silêncio vocal e dos barulhos metálicos e reclamou. -Mas o que raios você está fazendo? Acha que vai matar um zuagir com um prato e escapar desse inferno batendo canecos contra as cabeças duras desses chacais? -Não, minha querida (neste momento houve imenso sarcasmo) princesinha. Estou tentando arrumar uma forma de fugirmos. Estou aberta a sugestões. Novamente o silêncio entre as duas. Até que o som de festa sobe de forma assustadora. Kitana para de afiar seu prato para se atentar aos sons que tomavam o corredor. Ouviu paços se aproximando. Então Lamorac e mais duas rameiras perfumadas aparecem diante do cárcere. O zuagir solta um riso irônico: -Garanto que pensaram que eu vinha estuprá-las. Não tenham devaneios de luxúria, donzelas de porcelana. Meu paladar prefere temperos mais fortes que esse gosto aguado de vocês nobres. Abraçou então as duas vadias e foi-se corredor afora. -E não se preocupem. Tem mulher o bastante para todos meus chacais lá onde a bica faz o lago, no fundo da gruta. Duvido que algum deles queira abusar de duas virgens que mal sabem quanto pesa um homem. As duas prisioneiras tiveram de ouvir isso tudo caladas. E ouviram também os risos indecorosos de dezenas de casais por horas noite adentro. Na manhã seguinte Lamorac foi acordado por um vigia assustado: -Senhor! Elas fugiram!
- publicado às 12:58 AM -
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Wednesday, November 01, 2006
Nenhum homem vive para feitos pequenos. Às vezes é complicado encontrar o valor do que faço, mas lembro dessa frase, às vezes e aí... pumba. Vivo! Esse texto aquí em baixo é a primeira parte de um conto que estou escrevendo. Conforme for, eu continuo postando. Sinceramente espero que gostem.
Zuagires de Kuthar
A caravana passava lentamente pelo deserto, um atalho das terras sombrias de Kalinor para o Vale das Névoas. Sábios no curso desses quilômetros de areia e sol, os líderes da caravana optaram por viajar de noite e descansar de dia, sob tendas brancas e boa vigia de seus arqueiros. Estava já amanhecendo, e o grupo resolveu fazer um pique mais puxado e seguir até pouco antes do meio-dia. Já haviam passado dois terços da viajem quando o batedor voltou galopando apavorado: -Zuagires, senhor! São zuagires de Kuthar!!! A caravana então apavorou-se e iniciou uma formação defensiva. Os camelos se deitaram, e formaram um círculo. No centro os homens armaram seus arcos e bestas, e sacaram suas espadas, deixando-as fincadas ao lado, na areia, para um saque mais rápido. De longe viram a poeira levantando. Eram os zuagires de Kuthar, e este grupo que vinha tinha não menos que vinte desses chacais malditos. Seus cavalos estavam sempre descansados e prontos para a luta. Dizem que os zuagires conhecem cavernas secretas no deserto, onde existe água e sombra, e onde escondem seus tesouros roubados. Tendo visto os atacantes, em número esmagadoramente maior, o líder da caravana, Gunthar, lamentou: -Não sairemos com vida se não negociarmos nossa fuga. Precisamos resolver o quanto antes a negociação, ou nosso segredo cairá nas mãos dos ladrões. Isto eu não posso permitir. No galope em que vinham não haveria força bruta capaz de freá-los. Estavam fadados a morrer violentamente. Porém, notando que negociar não resolveria merda nenhuma, Gunthar comandou: -Corre, negada!!! A caravana então abandonou tudo que tinha valor e saiu em desabalada carreira. Teve até um cara que resolveu derrubar o batedor, que tinha um cavalo, e ir ele mesmo no animal do infeliz. Foi uma loucura. Os zuagires chegaram ao amontoado de objetos e provisões da caravana e iniciaram a perícia dos espólios e posteriormente sua distribuição conforme hierarquia previamente configurada. Um dos chacais berrou: -Tem uma mala cheia de calcinha! Todos os imundos piratas da areia iniciaram uma fuzarca, esfregando as peças femininas no rosto e em demais partes onde podiam alcançar seus braços curtos e fedorentos. O líder dos zuagires, Lamorac, coçou o queixo como quem pensa. - Adagor e Orthur! Venham comigo! Vamos alcançar alguns dos fugitivos. O maior grupo da extinta caravana estava galopando como podia, com seus cavalos e camelos exaustos pela marcha dobrada. Quando Gunthar olhou para trás, não podia acreditar. Três cavaleiros seguiam eles em carga dobrada. Não levariam cinco minutos até alcançá-los. - Somos cinco - disse o líder- e eles são três. Aghus e Ihjul, venham comigo enfrentá-los. Kitana, leve nossa princesa em segurança até o Vale das Névoas, ou tudo terá sido em vão. Kitana consentiu e traçou um arco no rumo que seguia, tendo consigo o corcel exausto da princesa. Os seis homens, zuagires e viajantes, engalfinharam-se em cruel peleja. Lâminas cruzando o ar como vespas em chamas, cortando a carne em gestos atrozes. Jatos de sangue e vísceras cobrindo a areia. Cavalos em pânico, esporeados à insanidade. A luta terminou em minutos vermelhos. Os três zuagires, vitoriosos, enquanto os três viajantes gemiam suas mortes sobre a areia empapada de sangue. -Cão do deserto! Jamais esquecerei seu rosto, maldito. Marque meu nome. Sou Gunthar, e estarei te esperando no inferno. -Pode aprontar minha mesa e minha cama por lá, filho duma puta. Meu nome é Lamorac Thuadanoin Agmalor. Líder dos zuagires de Kuthar! Tendo dito isto, finalizou os três moribundos com impiedosas cutiladas de sua cimitarra. Houve então grande júbilo entre seus soldados, mas o senhor dos saqueadores não ficou para beber e comer dos saques, pois disparou com seu corcel negro na direção das duas fugitivas. A perseguição começou com larga vantagem para as desesperadas vítimas, mas o conhecimento das dunas e suas artimanhas deu ao zuagir as ferramentas certas. O vento tem seus horários e sentidos muito previsíveis, para quem nasceu sob este sol inclemente. Logo seu cavalo voou sobre as dunas como uma notícia ruim. Lamorac então tinha o cavalo da princesa a menos de dez metros de vantagem, quando soltou as rédeas de sua montaria e sacou seu arco. Impressionante a rapidez com que seus braços buscavam as flechas e retesiam aquele arco. O cavalo da princesa então foi agraciado com uma flecha certeira no ânus. Talvez uma dor que o próprio zuagir não considerasse merecida, porém foi apropriada no sentido de trazer ao chão a tristonha criatura e sua amazona. A protetora da realeza não teve o que fazer a respeito do tombo épico, mas deu meia volta e sacou sua arma de combate. Kitana tinha uma cimitarra encantada. Uma vez sacada da bainha a magia imbuída a espada causava um som de grito estridente que vinha da lâmina. Galopou seu cavalo com toda energia para cima do comandante zuagir. Lamorac ficou pasmo com as propriedades encantadas da arma de sua presa e vacilou em capturar a princesa, mudando sua postura para um engajamento contra a amazona e sua arma gritante. Não há uma palavra em especial para descrever o que houve. O cavalo do zuagir foi atingido pela cimitarra e explodiu! O cavaleiro voôu dois ou três metros para cima, e caiu no meio da areia escaldante. Uma imensa mancha de caldo escarlate marcou o ponto final da vida de um corcel de nobre linhagem. A princesa também ficou pasma e foi pega boquiaberta por Kitana, lançada para cima da garupa do cavalo vitorioso e levada com um galope decidido para longe dessas areias malditas. Bem, seria, se o arco do zuagir tivesse quebrado. O que não ocorreu. A flecha do pirata da areia pegou novamente no ânus da montaria em fuga, terminando num imenso rolamento de garotas armadas e uma égua empalada. O zuagir foi mancando até o ponto da queda, onde as fêmeas se empurravam desajeitadamente para levantar. A espada já não gritava mais, então o zuagir pegou a arma para si. - Seu canalha lazarento! Como você pode acertar o cu de todos os cavalos a uma distância tão grande? Me diga, antes de nosso combate de morte – disse Kitana. - Meu arco foi encantado pelo poderoso mago Dárion, e seu nome segue o efeito de seu feitiço. Meu arco se chama Helgadurin unuc Traupum, ou seja,“Pau-no-cu” traduzido do Danor Clássico para comum. Tendo dito isto, desmaiou Kitana com um chute na cabeça e levou sobre os ombros tanto a princesa quanto sua guardiã. Dois cavalos morreram no deserto dias depois, de hemorragia anal.
- publicado às 6:52 PM -
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